Proteínas podem compor vacina contra sorotipos da dengue


O desenvolvimento de uma vacina contra os quatro sorotipos da dengue tem mobilizado grupos de pesquisa em todo o Brasil e no mundo. Buscando contribuir para esse desafio, um estudo da Fiocruz Pernambuco analisou uma proteína estrutural, a glicoproteína E, localizada na superfície do vírus da dengue. O trabalho identificou 11 peptídeos (proteínas) que, por terem se mostrado capazes de desencadear a produção de anticorpos, têm potencial para compor uma vacina contra a doença. A descoberta rendeu o depósito da quinta patente da Fiocruz Pernambuco no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).



 


Para esse estudo, essencial para o entendimento dos anticorpos envolvidos na resposta do organismo frente ao vírus da dengue, foram sintetizados, em laboratório, 95 peptídeos (compostos formados por 15 aminoácidos cada), a partir da seqüência de 490 aminoácidos da glicoproteína E. Os peptídeos foram testados através do método Elisa (enzyme linked immunosorbent assay), utilizando soros de pacientes infectados e não-infectados com o vírus da dengue sorotipo 3.


 


“Os soros reagiram com 11 dos 95 peptídeos testados, mostrando serem esses os mais expostos na superfície da glicoproteína E, ou seja, os mais reconhecidos pelos anticorpos”, explica a biomédica Andréa Rangel, que desenvolveu a pesquisa no mestrado em saúde pública da Fiocruz, sob a orientação dos pesquisadores Silvia Montenegro e Ernesto Marques. As amostras de sangue utilizadas no estudo foram coletadas nos pacientes positivos durante a fase de recuperação da doença. Elas fazem parte do projeto da Fiocruz Pernambuco, coordenado por Marques, que pretende desenvolver uma vacina contra a dengue.


 


Diagnóstico


 


Além de possuírem potencial para serem usados na construção de uma vacina, 9 dos 11 peptídeos identificados também poderão ser utilizados na elaboração de um kit de diagnóstico específico para a dengue tipo 3. “A maioria dos kits comerciais utilizados atualmente usa preparações totais de vírus, o que permite dizer apenas se o paciente tem ou não a doença, mas não o tipo do vírus com o qual foi infectado”, afirma Andréa.


 


Na próxima etapa da pesquisa, os peptídeos serão analisados por meio de ferramentas de biologia molecular junto com as moléculas identificadas em outras proteínas, denominadas de não-estruturais (NS1 e NS3), que também fazem parte da constituição do vírus da dengue. O objetivo desses estudos será identificar o comportamento dos peptídeos nas células in vitro e analisar a resposta imunológica dos camundongos frente a esses peptídeos.