HEMOSE


Foto: Márcio Garcez/Saúde


Há quase duas décadas, José Francisco Santos, 54 anos, tem um compromisso trimestral: ele se dirige ao Centro de Hemoterapia de Sergipe (Hemose) para, voluntariamente, doar sangue, um gesto encarado como um ato de amor ao próximo. “É uma forma de demonstrar solidariedade ao ser humano, independente de algum dia eu vir a precisar de sangue”, disse o doador fidelizado ao Hemose desde o início da década de 90, quando a unidade ainda funcionava na rua Goiás, no bairro José Conrado de Araújo, onde hoje está localizada a Maternidade Hildete Falcão Baptista.


De lá para cá, uma série de mudanças aconteceram, entre elas, a transferência do serviço para o bairro Capucho, vizinho ao Hospital de Urgência de Sergipe Governador João Alves Filho (HUSE). Porém, o sentimento que move José Francisco a não faltar com seu compromisso é o mesmo. “É algo que me faz bem como pessoa. Só pretendo deixar de ser doador quando morrer”. O orgulho de ajudar às pessoas que necessitam de sangue do mesmo tipo que o seu (O+) é tanto, que ele fez questão de comparecer ao Hemose na manhã desta terça-feira, 25, para comemorar o Dia Nacional do Doador Voluntário de Sangue.


Em Sergipe, o dia foi marcado por homenagens a alguns doadores históricos cadastrados no Hemose e às empresas que colaboram com as ações de incentivo às doações. A programação se estenderá ao longo do dia, com apresentações do grupo de teatro UTrIso e do coral do Instituto Luciano Barreto Júnior, além de sorteio de brindes. No início da manhã, o secretário de Estado da Saúde, Rogério Carvalho, esteve na unidade para pessoalmente parabenizar os doadores e ressaltar a importância do gesto, que, segundo ele, deve ser incentivado a todo instante no sentido de aumentar o contingente de pessoas sensíveis às necessidades do próximo, que pode ser um familiar, um amigo ou até um desconhecido.


“Para se ter uma idéia do grande significado que tem uma doação, basta ter em mente que todos os procedimentos cirúrgicos somente são viabilizados com a presença de sangue. A demanda é constante, e sem ele as pessoas morreriam”, destacou Rogério, enfatizando que quem doa sangue transfere vida. “É um ato de amor, de fé, de defesa da vida”, ratificou. O secretário também fez um apelo para que a população procure informações e desmistifique alguns mitos a respeito do assunto. “É preciso que as pessoas interajam umas com as outras, seja em casa, no trabalho ou na rua, e incentivem comportamentos solidários”, recomendou o secretário.


Mulheres


O Hemose recebe por mês entre 2,3 mil e 2,5 mil doações, mas somente 30% são doadores fidelizados, segundo Mariamália Newton Andrade, gerente de Atividades Médicas da unidade. “A gente vem conseguindo ampliar a capacidade de coleta, mas o percentual de pessoas que doam sangue periodicamente é ainda considerado pequeno”, disse a médica, acrescentando que, dentre as ações desenvolvidas pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), está a de conscientizar os cidadãos que se dirigem ao Hemose sobre a necessidade de realizar doações voluntárias.


“Boa parte das pessoas que vem aqui é motivada por uma situação de urgência de algum parente ou pessoa próxima. O nosso trabalho consiste em justamente orientar essas pessoas para que não realizem somente doações dirigidas”, explicou Mariamália. Outra preocupação do Hemose é com relação à quantidade de mulheres voluntárias. Em Sergipe, do total de doadores, apenas 18% são do sexo feminino, quando em outros Estados esse número chega a 40%. “Esse baixo percentual é resultado de alguns mitos, como o de que mulher não pode doar sangue por conta da menstruação, por exemplo”.


Fidelizada ao Hemose há 12 anos, Cíntia Fernanda da Silva Santos, 31 anos, está entre os 18% do público feminino identificado em Sergipe. “Durante todo esse tempo, nunca tive nenhum problema, pelo contrário, até gosto de doar sangue periodicamente porque sou obrigada a passar por alguns exames”, afirmou Cíntia, referindo-se aos exames para detectar anemia, Doença de Chagas e algumas doenças sexualmente transmissíveis (DST). Seu tipo sanguíneo (AB+) é um dos mais raros. Os outros difíceis de ser coletados são B+ e todos (O, A, B, AB) com o fator Rh negativo.


Para estimular novas doações e captar as pessoas com esses tipos raros de sangue, será implantado no Hemose o Núcleo de Atenção aos Doadores. “Ele será formado por uma equipe multidisciplinar para dar maior assistência ao doador e não deixar que ele faça apenas uma única doação dirigida”, explicou o diretor presidente do Hemose, Roberto Gurgel. Na ocasião, ele anunciou a reforma do hemocentro, que deverá se tornar um espaço mais arejado e confortável. “O projeto já foi aprovado e passará por licitação. A previsão é de que em oito meses a obra fique pronta”.


Santo de Casa


As homenagens para celebrar o Dia Nacional do Doador Voluntário de Sangue também contaram com a presença do secretário de Estado da Administração, Jorge Alberto, e do escritor e jornalista Jácome Góes, além de representantes de empresas parceiras do Hemose na campanha Santo de Casa Também Faz Milagre. “A iniciativa consiste na realização de palestras e doação coletiva de sangue em secretarias de Estado, empresas privadas, ONGs, escolas e universidades”, explicou Roberto Gurgel.


Ele destacou a colaboração da Secretaria de Administração, que viabilizou o contato do Hemose com outras instituições e empresas. “É sempre interessante para nós da Administração incentivarmos campanhas como essa, que contribui ativamente para a conscientização e mudança de comportamento das pessoas, disse o secretário Jorge Alberto. A empresa que tiver interesse em agendar um horário para doação deve entrar em contato com o Serviço Social ou o setor de Recursos Humanos do Hemose pelos telefones (79) 3259-3191 e 3259-3174. Qualquer cidadão que tenha entre 18 e 65 anos, pese mais de 50 quilos e goze de boa saúde pode doar sangue.