Dores articulares nem sempre é caso de cirurgia

Embora a dor seja uma condição universalmente presente em todos os tempos, a especialidade médica de controle da dor é nova. Anteriormente, a dor era entendida apenas como um produto de uma doença específica. Hoje, é vista como um problema complexo que requer conhecimento especializado para sua avaliação e tratamento. A medicina da dor é uma área de atuação da medicina que tem a base vinculada em várias outras especialidades, uma delas é a ortopedia, podendo atuar da cabeça aos pés, como dores na nuca, dor nos ombros, na coluna lombar e no joelho.

De acordo com o ortopedista da Bios, Ronald Barreto, a medicina da dor estuda o lado inflamatório do paciente, mas também o neurológico, psiquiátrico e biomecânico. “Na parte neuro-psiquiátrica, existem alterações neuroquímicas no cérebro que vão potencializar aquele estímulo doloroso. Pode chegar até o extremo onde uma simples brisa, que é agradável para uma pessoa, mas o nosso cérebro interpreta de forma equivocada aquele estímulo como se fosse um estímulo doloroso. Na parte inflamatória, quando a pessoa toma uma pancada, quando tem um trauma, quando algum vírus ou bactéria está agindo ou quando seu próprio sistema imune age contra o próprio corpo, que são as doenças autoimunes. Então tudo isso cria um processo inflamatório que causa muita dor”, explica.

Nesta área ortopédica, há ainda a parte biomecânica. “A biomecânica investiga como está o equilíbrio muscular e o funcionamento do corpo em termo de equilíbrio entre força e flexibilidade, entre resistência muscular e potência muscular ou como está uma musculatura em relação a outra. Temos visto cada vez mais, nos últimos anos, que esses desequilíbrios musculares também causam dor. Então, dor é um mundo resumido a um sintoma. Cerca de 90% dos pacientes atendidos no consultório de ortopedia, a primeira queixa é de dor”, afirma o ortopedista.

A medicina da dor tem o objetivo de entender, compreender e buscar as melhores soluções para tratar os problemas dos pacientes, mas o que muitas pessoas acham é que na área da ortopedia, em todo sintoma de dor a única solução é realizar cirurgia, porém, o ortopedista destaca que nem sempre a solução de tratamento é cirúrgica.

“Um exemplo disso é a artrose, que assim como cabelo branco, todo mundo terá um dia. O que precisamos é avaliar três grandes causas de dores: a parte intra-articular, nas alterações da cartilagem, meniscos e ligamentos; a parte intraóssea, dentro do osso, que pode ter necrose, tumor ou um edema dentro do osso que pode gerar dor; e tem ainda o desequilíbrio muscular, da musculatura ao redor do joelho que também pode causar dor. A cirurgia vai conseguir tratar somente uma parte disso, as alterações estruturais, mas não conseguimos tirar ou colocar com o bisturi mais força naquele músculo, eu não consigo tirar a dor somente com o procedimento cirúrgico, então temos que ver o tratamento de uma forma mais ampla. Em média,  95% dos meus pacientes não são tratados com cirurgia. A cirurgia é uma opção de tratamento sim, mas antes de chegar nela tem várias outras etapas a serem cumpridas, que vai depender muito do caso do paciente”, disse Ronald.

Oncologia

Com relação aos pacientes oncológicos, as dores são muito frequentes, pois o tratamento muitas vezes acaba afetando o desequilíbrio muscular e a parte óssea. A ortopedia e a medicina da dor também atuam para melhorar a qualidade de vida desses pacientes.

“O paciente oncológico pode sentir dor nas articulações pela própria metástase ou por ter câncer nas articulações, mas ele também pode sentir dor por outro motivo. Por exemplo, um paciente com câncer em fase inicial, por conta do medo ou por conta das suas limitações, ele tende a ficar parado, isso acaba gerando um desuso das articulações e fraqueza muscular e isso acaba gerando dor. Também tem pacientes oncológicos com doença crônica que está bem mais debilitado e fraco, com perda de massa muscular, muitas vezes não conseguem fazer atividade física e isso gera uma fraqueza muscular ainda maior e dor”, salienta Dr. Ronald.

O profissional destaca que é preciso fazer o máximo para o paciente seja ajudado e estimulado para fazer movimentos nas articulações, apesar das limitações. “A própria condição que o paciente está pode gerar ainda mais dor e a sua autoestima e qualidade de vida cai com a falta de motivação. O importante é estimular esse paciente, para que ele se reabilite e se sinta motivado tanto fisicamente como psicologicamente”, finalizou.