CAUSAS DA LEUCEMIA

Pesquisadores do Centro Infantil Boldrini, em Campinas (SP), descobriram uma das causas da leucemia linfoide aguda T, a mais comum em crianças brasileiras. Trata-se de uma mutação em uma proteína que faz com que as células se reproduzam descontroladamente. O estudo foi publicado domingo, 4/09, na revista Nature Genetics e abre caminho para o desenvolvimento de um remédio que atue diretamente na célula defeituosa, sem afetar todo o organismo, como no caso da quimioterapia.


Esta é a primeira vez que se identifica uma mutação no receptor de interleucina-7 (ou IL7R), uma proteína que controla a atividade das células T, responsáveis por administrar a ativação do sistema imunológico do corpo. Esta proteína é muito importante para o amadurecimento e a sobrevivência das células-tronco do sangue. Parte das células-tronco sanguíneas forma os linfócitos T, que nascem na medula, migram para o timo (glândula próxima ao coração), onde ocorre o processo de amadurecimento, e depois seguem para outros órgãos. O problema é que a mutação ativa continuamente a proteína, alterando o processo normal de amadurecimento celular, o que leva à proliferação exagerada de linfócitos imaturos.


Essa característica foi identificada em 10% dos pacientes analisados, uma prevalência considerável para esta doença, explica José Andrés Yunes, que coordenou a pesquisa. “Neste caso, 10% é muito, porque não se conhece a causa da leucemia. Não é normal existir um defeito comum com esta prevalência nos pacientes. Por isso ela é significativa.”


Os pesquisadores já realizaram testes preliminares com algumas drogas que conseguiram eliminar células portadoras da proteína com mutação. O próximo passo é desenvolver anticorpos e remédios para atuar especificamente na proteína.


“A quimioterapia cura, mas deixa sequelas. A criança até resiste mais à quimio que os adultos, porque o organismo é novinho. Mas alguns dos quimioterápicos podem deixar sequelas, como problema de coração, crescimento e fertilidade”, diz Yunes.


Participaram da pesquisa 201 pacientes com leucemia linfoide aguda T. O estudo é resultado da tese de doutorado da pesquisadora Priscila Pini Zenatti e produto da parceria entre instituições brasileiras e internacionais de pesquisa e saúde.


(Fonte: Jornal O Globo)