A Organização Mundial da Saúde (OMS) hoje recomenda que os viajantes com possibilidade de exposição ao vírus Zika utilizem preservativos ou mantenham abstinência sexual por três meses para evitar a transmissão sexual, no entanto, o RNA do vírus foi encontrado em amostras de sêmen após um período muito maior.
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Recentemente, foi publicado um relato de caso na Inglaterra indicando a identificação do RNA do vírus Zika no sêmen de um paciente com infeção confirmada após uma viagem ao Brasil mais de dois anos e meio (900 dias) após o início dos sintomas.
O tempo máximo de permanência do vírus Zika nos fluidos e mucosas ainda não foi determinado. E, as primeiras evidências publicadas recentemente sobre a presença do vírus Zika na mucosa retal de pacientes infectados podem acrescentar uma nova rota de infeção.
Pacientes imunossuprimidos
O vírus Zika é diferente de outros vírus transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti, como chikungunya e dengue, nos quais a transmissão também ocorre por via sexual. Utilizando as melhores evidências disponíveis até julho de 2018, a OMS recomendou que as pessoas infectadas sejam consideradas como tendo risco de transmitir sexualmente o vírus Zika durante três meses. Mas, no caso publicado em agosto no periódico Emerging Infectious Diseases, o RNA do vírus Zika permaneceu detectável no sêmen do paciente por mais de dois anos após o início dos sintomas – depois de 515 dias a carga viral ainda era suficiente para sequenciação.
De acordo com especialistas do Rare and Imported Pathogens Laboratory (RIPL) da Public Health England (PHE) e da University of Oxford, ambos no Reino Unido, entre outras instituições, a persistência do vírus Zika no sêmen por um período maior do que o esperado pode ser consequência do tratamento imunossupressor ao qual foi submetido o paciente do relato de caso. Para os autores, o caso gera, portanto, o questionamento de se a janela de transmissão de três meses é válida para todos.
Ao orientar homens que viajam com frequência, caso estejam planejando ter filhos em um futuro próximo, os médicos devem estar cientes da possibilidade de disseminação intermitente do RNA do Zika vírus, e de que ele pode persistir por mais tempo em pacientes imunossuprimidos, alertaram os autores.
Este relato de caso, no qual foi detectada infecção muito prolongada em uma pessoa com imunidade baixa, sugere que a precaução deve ser estendida quando o paciente apresentar qualquer tipo de comprometimento imunológico, afirmou a Dra. Vivian Avelino-Silva, infectologista e professora associada do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que não participou do trabalho.
Solicitado a comentar sobre o trabalho para o Medscape, o Dr. Rafael França, pesquisador em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), disse que "no paciente em imunossupressão, que bloqueia a resposta imunológica e, portanto, favorece o vírus, pode-se esperar uma persistência maior do vírus".