O Conselho Federal de Medicina (CFM) orienta que em todos os níveis de atendimento à saúde (de unidades básicas de saúde a unidades de terapia intensiva) sejam estabelecidos protocolos assistenciais visando o reconhecimento precoce e a pronta instituição das medidas iniciais de tratamento aos pacientes com sepse, também conhecida como infecção generalizada – de alta mortalidade no país, principal causa de morte nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), e a principal geradora de custos nos setores público e privado.
A diretriz está na Recomendação 6/2014, publicada hoje, que, entre outras providências, sugere ainda a capacitação dos médicos para o enfrentamento deste problema cada vez mais incidente – devido ao aumento da população idosa e do número de pacientes imunossuprimidos ou portadores de doenças crônicas, criando uma população suscetível para o desenvolvimento de infecções graves.
O documento ressalta que “qualquer processo infeccioso pode evoluir para gravidade, caracterizando o quadro de sepse, sepse grave ou choque séptico” e que a sepse é a principal causa de internação em unidades de terapia intensiva, com custos elevados de tratamento e alta mortalidade – matando uma em cada quatro pessoas (frequentemente mais).
Alta mortalidade
O Instituto Latino Americano da Sepse (ILAS), que contribuiu para a elaboração da recomendação, concluiu recentemente um estudo, que ajuda a dar a dimensão do problema no Brasil. O trabalho, denominado SPREAD (Sepsis Prevalence Assessment Database), consistiu na avaliação, em um único dia, de 229 UTI em vários estados, abrangendo 794 pacientes.
Os números pontuam a relevância do problema. Foi constatado que 29,6% dos leitos estavam ocupados por doentes com sepse grave ou com choque séptico. Desses pacientes, 55,7% morreram. A mortalidade na região Sudeste foi de 51,2%; no Centro-Oeste, 70%; Nordeste, 58.3%; Sul, 57,8% e Norte, 57,4%. O índice de letalidade está muito acima do registrado em outros países. Na França essa taxa é de 30% e, nos Estados Unidos, 29%.
O SPREAD mostrou que são fatores ligados ao aumento da mortalidade são a limitação de recursos básicos, a gravidade do paciente, e a demora na administração da primeira dose de antibióticos.
Diagnóstico difícil
Como os sintomas da sepse são comuns a várias outras doenças, o diagnóstico pode demorar e, consequentemente, a aplicação do antibiótico e a possível cura. “Existe um problema de falta de conhecimento sobre a sepse, pois como os sintomas são inespecíficos, é difícil identificar os sinais de alerta e tratar a infecção no tempo certo, por isso é tão necessário a participação em cursos e a adesão dos hospitais aos protocolos”, afirma a vice-presidente do ILAS, intensivista Flávia Machado.
Apesar de a sepse atacar com mais frequência pacientes hospitalizados, em cerca de 30% a 50% dos casos a infecção é adquirida na comunidade e o paciente é internado já em estado grave. Isso sugere o desconhecimento do público em geral sobre a gravidade da doença. Pesquisa nacional realizada ano passado pelo ILAS − em parceria com o Instituto Datafolha − mostrou que de 2.126 entrevistados, apenas 140 (6,6%) tinham ouvido o termo sepse, sendo que dessas, só 56 a identificaram corretamente como uma resposta grave do organismo a uma infecção.
Até pouco tempo, a maior parte dos pacientes com sepse morria. Recentemente, com a melhoria dos cuidados hospitalares e a adoção de medidas − muitas delas simples − capazes de reduzir a incidência da doença, esse número tem se reduzido. Nesse sentido, a recomendação do CFM se coloca como mais um estímulo e um meio para aumentar a percepção sobre a gravidade da sepse, tanto entre profissionais como entre instituições de saúde, comunidade científica e inclusive leigos, estimulando a implementação de ações de enfrentamento ao problema.
Fonte: CFM