Pesquisa mostra realidade do idoso no Brasil


Com uma poesia autobiográfica, onde conta suas aventuras e percalços desde menino na roça, Leopoldo Moreira abriu a solenidade de lançamento da pesquisa ‘Idosos no Brasil – Vivências, desafios e expectativas na 3ª idade, que retrata a realidade dos idosos no Brasil, feita pelo Núcleo de Pesquisa de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo (FPA), em parceria com o Serviço Social do Comércio (SESC Nacional e SESC-SP). O lançamento, em Sergipe, aconteceu na tarde de quinta-feira, 17/1, e contou com o apoio do Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Inclusão, Assistência e Desenvolvimento Social (Seides), em parceria com o SESC, e contou com a presença do vice-presidente da fundação, Nilmário Miranda.


Aos 87 anos, seu Leopoldo esbanja alegria e vitalidade invejáveis, típicos de alguém que descobriu o prazer em viver depois de muito sofrer. “A professora pediu para eu fazer uma poesia. Então, resolvi contar a minha vida, que é muito bonita”, disse ele, sem falsa modéstia, mas de forma tímida. Foi lavrador, zelador, pai de muitos filhos e alfabetizado nas atividades do grupo de idosos do SESC-SE.


“O SESC é uma instituição pioneira no trabalho social com a terceira idade, que começou na década de 1980. Trabalhamos atualmente com dois grupos de idosos, um no SESC Siqueira Campos, com 400 idosos, e no SESC Atalaia, com 250. São mais de 15 anos com diversas atividades de formação, como alfabetização, orientação nutricional, um olhar especial para essa clientela, que é muito grande”, disse Gilson dos Santos, diretor de Planejamento do SESC-SE. Segundo Gilson, com mais de 40 anos de trabalho, o SESC Nacional não poderia se furtar de ser parceiro numa pesquisa como esta, que trata da realidade dos idosos no país.


Levantamento


A pesquisa ‘Idosos no Brasil – Vivências, desafios e expectativas na 3ª idade foi coordenada pelo cientista político Gustavo Venturi e pela socióloga Marisol Recamán e aplicada de 1º a 23 de abril de 2006, em 204 municípios das cinco regiões do país. Foram ouvidos 3.759 brasileiros com objetivo de traçar um perfil de como o idoso se vê e como a sociedade vê o idoso.


Os resultados demonstram a falta de informação na sociedade sobre a velhice e sobre as reais necessidades dos idosos, sejam elas físicas, morais, sociais, culturais, e/ou de garantia de direitos. Os resultados também apresentam dados sobre o preconceito existente, porém nem sempre identificado pelos idosos; a violência contra o idoso, praticada na esfera doméstica e pública, e, principalmente, as demandas específicas como saúde, lazer, educação e outras.


Mas a pesquisa também mostrou outros aspectos. “A gente cria um estereótipo de que os idosos são infelizes, mais doentes do que são, têm medo da morte e na verdade não é bem isso. A maioria dos idosos está satisfeita com a vida. A maioria trabalhou a vida inteira, ganha pouco, mas tem casa própria, tem uma poupança, se preparou para isso”, disse Nilmário Miranda, vice-presidente da FPA, que fez a palestra do lançamento do livro.


Ele reforçou a importância da pesquisa e de se mudar o olhar sobre a população idosa. “Não podemos ter uma visão imediatista, consumista, que só vale quem contribui. Por isso é que criança e idoso nunca foram valorizados. O Brasil está descobrindo que os idosos têm direitos e são importantes. São 10% da população atual e há uma previsão de que chegue a 20% nos próximos 15 anos. Meio milhão de brasileiros tem mais de 90 anos e o Brasil conhece pouco disso”, informou.


O aumento da expectativa de vida dos idosos tem explicação. “A saúde melhorou, a mortalidade materna e infantil diminuiu, a sociedade melhorou. Mas o Brasil precisa ainda aprender a preparar a velhice desde a infância”, disse Nilmário, reforçando que é preciso dar a importância necessária aos idosos. “Depois de uma vida dedicada aos outros, você deixa uma contribuição enorme e adquire o direito de curtir o resto da vida”, acrescentou.


O livro


Organizado pela professora Anita Liberalesso Néri e co-editado pela Editora Fundação Perseu Abramo e pelas Edições SESC, o livro ‘Idosos no Brasil: Vivências, desafios e expectativas na terceira idade reúne análises aprofundadas dos dados dessa pesquisa. É uma coletânea de textos produzidos por 16 profissionais de diversas formações, comprometidos com a compreensão dos fenômenos da velhice e do envelhecimento e com a atenção aos idosos nos domínios do bem-estar psicológico, social e da saúde.


“O livro é destinado às pessoas que lidam com os idosos, gestores municipais e estaduais, conselhos de idosos, instituições, como SESC, ONGs, para que as pessoas que trabalham com idosos possam conhecer melhor esta realidade”, explicou Nilmário.


“A pesquisa e o livro vão dar os parâmetros para definirmos as políticas públicas para o idoso no Estado. Vai nos ajudar muito nas parcerias com as secretarias municipais de assistência social, exatamente quem implementa estas políticas. Esta pesquisa vai nos referenciar para projetos, co-financiamentos, seminários, cursos para os gestores municipais”, disse a secretária de Estado da Inclusão Social, Ana Lucia Menezes.


“A realidade do idoso no Brasil é de vulnerabilidade, mas Sergipe se destaca por ter uma rede de proteção que funciona efetivamente. Foi criada a 11ª Vara Criminal, que vai cuidar do idoso, tem um Ministério Público Estadual atuante, tem o maior número de conselhos municipais. E a Secretaria de Inclusão Social tem sido sensível e demonstra em suas ações, como o estatuto do idoso de bolso, que será lançado este ano”, disse Álvaro Fontes, presidente do Conselho Estadual do Idoso.


Os resultados da pesquisa ‘Idosos no Brasil – Vivências, desafios e expectativas na 3ª idade estão disponíveis no sítio da Fundação Perseu Abramo (http://www.fpabramo.org.br).