Oxigenoterapia hiperbárica: o que é e para que serve?

Estudos científicos já comprovaram que 85% das amputações no pé diabético foram precedidas por úlceras que poderiam ter sido tratadas com a Oxigenoterapia Hiperbárica (OHB), queé uma modalidade terapêutica que consiste na oferta de oxigênio puro (FiO2 = 100%) em um ambiente pressurizado a um nível acima da pressão atmosférica, habitualmente entre duas e três atmosferas. A oxigenoterapia hiperbárica é reconhecida como uma modalidade terapêutica que deve ser aplicada por um médico. No Brasil, as indicações foram regulamentadas pelo Conselho Federal de Medicina. E para falar sobre o assunto, o Canal Viva Bem traz o enfermeiro Rafael Déda para explicar como essa forma de tratamento pode ser realizada.

De acordo com o enfermeiro Rafael Déda, as úlceras são mais comuns em pessoas com diabetes porque a cicatrização é mais difícil. “Uma pele com ferida acaba gerando uma lesão. Nessa lesão há uma destruição de tecido (pele e suas camadas) e consequentemente há destruição da rede vascular. Por exemplo, em uma casa possui a parede e por trás da parede tem a tubulação que passa água. Se eu quebrar a parede e gerar um buraco nela eu posso acabar quebrando a rede de tubulação e vai dificultar a chegada da água. Voltando para as lesões, fica mais fácil de entender a partir desse exemplo, porque um paciente com diabete tem dificuldade do sangue chegar até a ferida. Ou seja, um paciente com muita glicemia, existe um acúmulo de açúcar dentro do vaso e isso obstrui a passagem do sangue e a ferida precisa justamente do sangue para cicatrizar. Por isso que é preciso controlar a glicemia para que não aconteça essa obstrução da passagem do sangue para chegar até a ferida”, destaca.

O enfermeiro ainda alerta que quando o sangue não chega até a ferida, por conta das obstruções, consequentemente a ferida não vai cicatrizar, vai virar um tecido morto. “A ferida que não cicatriza vira uma necrose, ou seja, a morte do tecido. Do mesmo modo acontece com um paciente que tenha vasculopatia, que é o problema nas veias e nas artérias. Se esse paciente tem uma artéria obstruída o sangue também tem dificuldade para passar e chegar até a ferida”.

E a oxigenoterapia hiperbárica se associa a esse problema justamente para facilitar a chegada do sangue até a ferida. O tratamento é realizado por meio de uma máquina e a pressão que a maquina faz juntamente com o oxigênio vai fazer com que o sangue chegue com mais facilidade até a ferida. “No sangue nós temos a parte sólida, que são as hemácias, e a parte líquida, que é o nosso plasma e o oxigênio passa por essas duas vias. Com a pressão utilizada da máquina, faz com que o oxigênio se dissolva no plasma. Um exemplo, a pressão ao abrir o refrigerante e faz sair o gás. Do mesmo jeito a pressão da máquina faz o oxigênio se dissolver no plasma e fazer com que o meio líquido se dissolva melhor e facilita que o sangue chegue até a lesão e possa fazer a cicatrização”, acrescenta o enfermeiro Rafael Déda.

O tempo do tratamento com a oxigenação hiperbárica é de geralmente uma hora por sessão e o paciente deve comparecer de segunda a sexta. “A pressão da máquina durante o tratamento é decidida por nós profissionais, internamente, por meio do nosso protocolo. O paciente inicia o tratamento de dez em dez sessões e a medida que a ferida vai evoluindo ou não, é que vamos avaliando se precisará de mais sessões para o tratamento. Algumas pessoas perguntam se com dez sessões pode ficar curado, isso é o que nós profissionais esperamos, mas cada organismo reage de uma determinada maneira, então não podemos afirmar a quantidade”, enfatiza o profissional.

O ideial é que o paciente realize o tratamento com encaminhamento médico, mas também pode procurar o especialista para fazer o tratamento. “Existem as contraindicações absolutas e relativas. Por exemplo, um paciente gripado nós contraindicamos a fazer o tratamento até o paciente melhorar da gripe, pois ele vai está em ambiente fechado e está com a imunidade mais baixa. As contraindicações que não permitem totalmente depende muito de cada paciente e pode variar”, afirma o enfermeiro.

Rafael Déda ainda explica que o paciente entra na máquina com um profissional e a máquina comporta até três pacientes por sessão, mas cada um com sua máquina, nenhum entra com a lesão exposta e todos ficam acompanhados pelo enfermeiro. Outro destaque é que esse tratamento infelizmente ainda não entrou na tabela do SUS.  “Estamos com alguma esperança de que talvez próximo ano o Ministério da Saúde insira a hiperbárica no SUS para pacientes com pé diabético, isso é que estamos buscando, mas não é algo que acontecerá de certeza. Em plano de saúde o atendimento é realizado e quem não tem condições de fazer nem no particular ou não tem plano de saúde, pode conseguir através da Defensoria Pública para acionar a justiça. O tratamento custa em média 250 a 300 reais por sessão, mas se for pensar na questão de custo e benefício, um paciente que fica 10 anos com aquela lesão fazendo curativo e gastando com remédio, pode acabar gastando muito mais do que realizar as sessões e ficar curado. Então é algo que vale a pena para o retorno que ele terá para sua saúde”, finaliza o enfermeiro.

Foto: Viva Bem