A doação de leite materno é um gesto de amor que pode fazer toda a diferença na vida dos bebês prematuros e em situação de risco na UTI neonatal da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes (MNSL), em Aracaju. O Banco de Leite Humano Marly Sarney (BLH) – referência no estado e integrante da rede estadual de saúde de Sergipe -, órgão vinculado à MNSL, enfrenta um estoque baixo, necessitando de mais doadoras para suprir essa demanda vital.
Exemplos como o da professora Débora Reis, 33 anos, mãe da pequena Clarice, com três meses, ressaltam a importância desse ato tão importante para garantir que os bebês mais vulneráveis tenham acesso ao alimento mais adequado e essencial para o seu desenvolvimento. Débora, que faz doação de leite há cerca de dois meses para o BLH, destacou o impacto dessa contribuição. “É um sentimento inexplicável de amor, de solidariedade, de estar realmente ajudando ao próximo”, compartilhou.
Nos primeiros dias após o parto, ela enfrentou excesso de produção de leite, o que a levou a ser uma doadora do banco de leite para ajudar também outras crianças que necessitam do precioso alimento. “Foi aí que uma amiga minha comentou sobre a doação e, a partir daí, ela entrou em contato com o banco de leite e eles entraram em contato comigo, me pedindo os exames do pré-natal”, explicou.
Débora foi orientada pelo WhatsApp, facilitando todo o processo, sem a necessidade de deslocamento. Desta maneira, os profissionais do banco de leite vão até a casa dela, semanalmente, para recolher o leite e para entregar um novo kit com frascos esterilizados. A professora destacou a atenção e o cuidado da equipe em todo o processo. “Foi um alívio para o meu seio. Além do mais, no início, eu me sentia insegura se eu realmente eu teria leite para amamentar. Com isso, eu percebi que tinha leite para a minha filha, ou seja, ela está super bem-alimentada, ganhando peso, saudável, e também tenho leite suficiente para doar para outras crianças que precisam”, disse, ao acrescentar que conta com a ajuda do esposo na etiquetagem dos potes e no processo de preparação do leite para doação.
Outro exemplo é o da biomédica Gilian Maíra dos Santos Silva, 26 anos. A biomédica contou que sempre teve o hábito de doar, inicialmente sangue, e ao perceber o excesso de produção de leite, após o nascimento de sua filha Tainá, que ainda não completou um mês de vida, viu na doação uma maneira de ajudar outros bebês. Ao encontrar informações sobre o Banco de Leite Humano Marly Sarney, Gilian iniciou o processo de doação, contribuindo semanalmente para ajudar bebês que dependem desse importante alimento.
“É um ato que ajuda o próximo e passa amor. Desta maneira, ajuda também os bebezinhos a crescerem saudáveis e àquelas mães que não podem amamentar. Dessa forma, as crianças têm a oportunidade de se desenvolver de outra maneira, com a ajuda do próximo. Com essa ação, eu me sinto feliz e satisfeita porque eu sempre quis doar e ajudar”, disse.
Ato que salva vidas
Histórias como a de Débora e Gilian destacam a importância da doação de leite materno como uma oportunidade de espalhar amor e solidariedade. Graças a atitudes dessas doadoras, Fátima dos Santos Guimarães, 35 anos, moradora de Divina Pastora, pôde alimentar o seu filho Fabrício, que nasceu prematuro de 8 meses. Já com seis semanas de vida, Fabrício está na expectativa de receber alta da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin) da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes. Ela enfatizou a importância de doação para que bebês como seu filho possam receber as vitaminas e nutrientes essenciais. “No meu caso, não pude dar o meu seio porque eu não tive leite. Se não fosse o leite materno doado, o meu bebê não teria recebido as vitaminas necessárias para evoluir e poder ir para casa. Portanto, o leite materno é vida. Faço um apelo para quem tiver bastante leite, que doe”, enfatizou Fátima sobre a importância do gesto para crescimento e recuperação dos bebês prematuros.
Fátima e o seu filho Fabrício estão sendo assistidos pela Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, onde mais de 90 bebês estão internados na UTI neonatal. Em 2023, foram realizados 5.088 partos, com uma média de 424 por mês. Em 2024, nos dois primeiros meses, a maternidade já realizou 743 partos, com uma média de 372 por mês.
A gerente da Utin da MNSL, Juliana Fonseca, destacou o papel do BLH para suprir as necessidades quando as mães enfrentam dificuldades na amamentação devido à prematuridade ou outras condições. Ela explica que mãe começa a produzir o colostro logo após o parto, mas às vezes ela enfrenta dificuldades devido à prematuridade do bebê, ao processo de parto ou ao tecido mamário ainda imaturo para continuar essa produção. Por isso, em algumas situações é necessário utilizar o leite vindo do banco para alimentar os recém-nascidos, até que a mãe consiga iniciar a produção própria.
“O leite do banco supre esse período de adaptação da mãe. Todos os nossos bebês aqui têm o primeiro contato com o leite materno. Muitas mães conseguem ordenhar para seus próprios bebês, mas quando não conseguem vir todos os dias, ou não conseguem ordenhar, utilizamos o leite pasteurizado que vem do banco de leite. Nosso intuito é garantir o acesso ao leite materno, seja da própria mãe ou do banco de leite, que é essencial para o desenvolvimento saudável dos bebês. Estamos aqui para oferecer todo o suporte necessário durante esse período crítico”, frisou Juliana.
Coleta
Além de receber doações de leite humano, o BLH, unidade vinculada à Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, oferece suporte às mães com dificuldades na amamentação, garantindo que todos os bebês tenham acesso ao alimento. As doadoras passam por um processo de cadastro, onde são avaliados exames pré-natais, e são colocadas em uma rota de coleta. Uma equipe multiprofissional, incluindo assistentes sociais e técnicos de enfermagem, apoia as doadoras em todo o processo. O leite doado é submetido a um rigoroso controle microbiológico no laboratório do banco antes de ser destinado ao lactário para alimentar os bebês na UTI neonatal.
As doadoras podem produzir um mínimo de 40ml a 80ml por semana, que são coletados durante visitas semanais. O leite é armazenado congelado, por até 15 dias, para garantir sua segurança durante o transporte. A logística da coleta é adaptada para facilitar a participação das doadoras, realizando visitas nas residências. A rota de coleta acontece duas vezes ao dia, de segunda a sexta-feira, em bairros da grande Aracaju.
A coordenadora do Banco de Leite de Sergipe Marly Sarney, Bárbara Reis, ressaltou a importância do banco para bebês prematuros e de alto risco na Utin e a necessidade de mais doadoras, devido à redução no estoque de leite. “Atualmente estamos com cerca de 35 a 40 doadoras. Já chegamos a ter 90 doadoras. Quando começa a ter esse baixo estoque, a gente precisa reforçar junto à sociedade a necessidade das doações. A gente tem uma demanda muito grande da UTI neonatal. O leite materno realmente salva vidas e reduz a taxa de mortalidade. A gente precisa enviar dez litros à MNSL e, às vezes, a gente só consegue enviar quatro. Por isso é importante que esse estoque aumente e que tenhamos mais doadoras”, reforçou a coordenadora, acrescentando que há incentivo às doadoras, como, por exemplo, a isenção da taxa de pagamento para inscrição em concursos públicos.
Rede
A Rede Sergipana de Bancos de Leite Humano e Postos de Coleta é composta pelos BLH Zoed Bittencourt, na Maternidade Zacarias Júnior, em Lagarto; e BLH Irmã Rafaela Pepel, na Maternidade São José, em Itabaiana. Na capital, além do BLH Marly Sarney, existem os postos de coleta Dr. Fernando Guedes, na Maternidade Santa Isabel, e o da Maternidade Municipal Lourdes Nogueira.
Doação
Para doar ao Banco de Leite Marly Sarney e fazer parte dessa rede de solidariedade, a doadora deve entrar em contato por meio do telefone 79 3226-6301, de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, ou comparecer pessoalmente à Rua Mato Grosso, s/n, bairro José Conrado de Araújo, na capital.
Fonte: SES
Foto: Arthuro Paganini