CÉLULAS-TRONCO


Estudo internacional, com participação de brasileiro, sugere que autotransplante de medula óssea pode melhorar condição de pacientes


Pesquisa FAPESP – Um estudo de pesquisadores norte-americanos, com a participação do imunologista Júlio Cesar Voltarelli, do Centro de Terapia Celular (CTC) da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, mostra que pacientes com esclerose múltilpla (EM) ainda em estágios iniciais, mas que não respondem mais ao tratamento tradicional podem se beneficiar de uma agressiva abordagem terapêutica alternativa: quimioterapia com imunossupressores seguida de autotransplante de células-tronco hematopoéticas retiradas de sua própria medula óssea.


Em artigo científico publicado online no dia 30 de janeiro na revista inglesa Lancet Neurology, cientistas da Northwestern University, de Chicago, relatam que 21 adultos com a doença – ocasionada provavelmente por uma disfunção das células de defesa do organismo que atacam o sistema nervoso central e progressivamente provocam dores articulares, rigidez muscular e problemas motores – apresentaram melhora em sua situação neurológica depois de terem se submetido ao transplante autólogo.


Cerca de três anos (em média) após terem recebido o tratamento, todos os pacientes estavam vivos e em situação melhor do que a anterior ao procedimento. Cinco deles tiveram problemas decorrentes do tratamento, como diarreia ou infeçção viral, mas essas intercorrências foram debeladas com remédios. Outros cinco tiveram novas crises decorrentes da EM. No entanto, esses surtos foram debelados como drogas imunossupresoras.


“Esse é o primeiro estudo com transplantes de medula em esclerose múltipla que mostra melhora, e não apenas estabilização, da situação dos pacientes. O tratamento não é perfeito, não é a cura, mas melhora a qualidade de vida do paciente”, comenta Voltarelli, um dos autores do artigo. “Minha participação no trabalho foi apenas intelectual, visto que testamos há anos o mesmo esquema terapêutico em doentes com diabetes do tipo 1 e com paciente de esclerose múltipla em estágio mais avançado.” Um dos resultados mais espetaculares do grupo de Voltarelli foi ter usado com sucesso, ao menos temporário, o mesmo esquema terapêutico em pacientes com diabetes do tipo 1 (ver reportagem de Pesquisa FAPESP).


A lógica do tratamento conjugado é destruir, com a quimioterapia, o sistema imunológico do paciente, que é a causa primária da EM, e, em seguida, reconstituir as células de defesa do organismo a partir do autotransplante de células-tronco da medula. Dessa forma, o novo sistema imune, que é totalmente compatível com o receptor do transplante, mostra-se menos agressivo ao próprio organismo, minorando ou retardando os sintomas da doença.


Os pacientes do estudo da Lancet Neurology, todos tratados nos Estados Unidos e com idade média de 33 anos, tinham recebido o diagnóstico de EM há 5 anos em média. Há pelos menos seis meses os medicamentos normalmente usados para debelar suas crises neurológicas (corticóides e inteferon beta) não se mostravam mais eficientes. Por isso, apesar de estarem ainda em estágios iniciais da EM, sua participação foi autorizada no estudo.


Segundo Voltarelli, será feito um estudo internacional mais amplo em breve com mais pacientes de EM. “Este trabalho agora publicado foi uma preparação para um ensaio clínico que se iniciará brevemente em Chicago, Calgary (Canadá), Ribeirão Preto e outros centros”, afirma o imunologista. “Vamos comparar o transplante autólogo de células-tronco hematopoéticas com tratamentos alternativos medicamentosos.”


Fonte: Pesquisa FAPESP