Caos no trânsito polui o meio ambiente e afeta a saúde

Alexandra Brito


A fumaça que sai do cano de descarga dos veículos agride, não só o meio ambiente, como também a saúde do homem. Doenças respiratórias e irritação nos olhos são alguns males apontados por especialistas, além do envelhecimento precoce da pele. Sem falar no estresse acumulado ao enfrentar os engarrafamentos que vem crescendo a cada ano em Aracaju. É preciso encontrar soluções urgentes para melhorar o problema do trânsito na capital sergipana, reduzindo os índices de poluição e consequentemente melhorando a qualidade de vida dos habitantes da cidade. A questão do transporte, tráfego e sistema viário de Aracaju são alguns itens que estão em discussão, na revisão do Plano Diretor do município.


“Dirigir está cada dia mais difícil em Aracaju. O trânsito está cada vez mais caótico, principalmente para a zona sul da cidade. Eu levo uma hora da minha casa, na zona norte, para levar a minha filha na Unit, um trajeto que seria feito normalmente em 20 minutos”, desabafa o aposentado Alberto Silveira. Com isso o consumo de combustível aumenta, já que na maior parte do percurso, ele fica entre a primeira e a segunda marcha, e consequentemente a emissão de gases poluentes na atmosfera.


Combate à poluição


Segundo dados da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP), o transporte coletivo por ônibus apresenta taxas muito menores de emissão de poluentes do que outros veículos. Por passageiro – quilometro transportado, as motocicletas apresentam taxas de poluição 32,3 vezes maior que os ônibus, enquanto os automóveis poluem 17 vezes mais. A poluição do ar, a geração de calor e a demanda de energia convergem para necessidade de uma política nacional de transportes públicos que combine as melhores alternativas ambientais e energéticas. A poluição nas grandes cidades é o resultado, principalmente, da queima de combustíveis fósseis, a exemplo do carvão mineral e da gasolina e diesel, subprodutos do petróleo.


Nas cidades, os veículos são responsáveis por 40% da poluição do ar. Os escapamentos dos veículos automotores emitem gases como o monóxido (CO) e o dióxido de carbono (CO2 ), o óxido de nitrogênio (NO), o dióxido de enxofre (SO2 ) e os hidrocarbonetos.


Cansado do calor e de respirar os gases emitidos pelos veículos, o funcionário público João da Costa optou há alguns anos por um carro com ar condicionado. “No verão, que é o clima mais constante aqui em nossa região, o ar fica sufocante e quem mais sofre são as crianças. E com o trânsito caótico, essa situação só faz piorar. O nariz e os olhos coçam muito. Eu mesmo uso colírio direto”, comenta.


Já o radialista Fernando Pereira relembra que, durante um bom tempo sofreu com um pigarro que o incomodava muito. “Fui para vários médicos, tomei remédios e nada de passar. Depois descobri que uma mangueira do meu carro estava solta e o gás liberado pela queima do combustível estava entrando no veículo. Eu, ao respirar sem saber o gás, comecei a ter esse pigarro, essa tosse seca, que só passou depois que detectei e consertei o defeito”.


Diversos problemas são gerados pela poluição nos grandes centros urbanos. A saúde do ser humano é a mais afetada com a poluição. Doenças respiratórias como bronquite, rinite alérgica, alergias e asma levam milhares de pessoas aos hospitais todos os anos. O clínico geral Emanoel Messias Nascimento reforça que o sistema respiratório é o mais agredido pela poluição. “A fumaça liberada pelos veículos são tóxicas e provocam broncoespasmos, como asmas, pneumonias, insuficiências crônicas agudas, problemas alérgicos, principalmente em crianças”, explica.


Outros problemas de saúde causados pela poluição são irritação na pele, lacrimação exagerada, infecção nos olhos, ardência na mucosa da garganta e processos inflamatórios no sistema circulatório. A pele também sofre com a emissão dos gases veiculares. “A poluição do ar acaba acelerando o envelhecimento precoce. Isso pode ser verificado facilmente nas parte do corpo humano que ficam mais expostas ao meio ambiente, a exemplo do rosto, pescoço e braços, onde a pele apresenta sinais de envelhecimento mais acelerado”, explica o dermatologista Emerson Ferreira.


O barulho dos veículos, o som da buzina, o vai-e-vem também afetam o ser humano, conforme explica Emanoel Messias. “Todos esses elementos juntos acabam afetando e irritando o sistema nervoso central. O ser humano está mais acostumado com lugares mais calmos, de pouco barulho. Tem gente que termina ficando muito irritado e até depressivo, devido ao trânsito”.


Danos ao meio ambiente


Os danos não se restringem à espécie humana, mas também o clima do planeta e toda a natureza têm sido consideravelmente afetados pela emissão de gases poluentes. O resultado é o aumento da temperatura no globo terrestre, fenômeno conhecido como efeito estufa. A toxidez do ar ocasiona a destruição de florestas, fortes chuvas que provocam a erosão do solo e o entupimento dos rios. Calcula-se que a poluição do ar tenha provocado um crescimento do teor de gás carbônico na atmosfera, que teria sofrido um aumento de 14% entre 1830 e 1930.


No futuro, pesquisadores afirmam que poderemos ter a elevação do nível de água dos oceanos, provocando o alagamento de ilhas e cidades litorâneas. Muitas espécies animais poderão ser extintas e tufões e maremotos poderão ocorrer com mais freqüência. Apesar das notícias negativas, o homem tem procurado soluções para estes problemas. A tecnologia tem avançado no sentido de gerar máquinas e combustíveis menos poluentes ou que não gerem poluição. Muitos automóveis já estão utilizando gás natural como combustível. No Brasil, existem milhões de carros movidos a álcool, combustível não fóssil, que polui pouco. Testes com hidrogênio têm mostrado que num futuro bem próximo, os carros poderão andar com um tipo de combustível que lança, na atmosfera, apenas vapor de água.


Planejando o futuro


A Câmara Municipal de Aracaju (CMA) está revisando o Projeto de Lei Complementar nº 06/2011, que revisa o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável (PDDUS). Esta é uma oportunidade para se planejar a cidade para o futuro, evitando cometer erros do passado, principalmente no que diz respeito à mobilidade urbana.


No projeto, no capítulo V, que trata da questão da “Política de Transportes, Tráfego e Sistema Viário”, está previsto que devem ser priorizadas ações que visem a melhoria do transporte coletivo e que fomentem o seu uso, além da ampliação das ciclovias da cidade, de forma segura. Duas medidas que podem trazer ganhos significativos para a mobilidade urbana da cidade e para a saúde de quem reside em Aracaju.


Para o presidente da CMA, Emmanuel Nascimento, o Plano Diretor tem que fortalecer o transporte público. “Se não for feito isso, você não melhora o trânsito na cidade. Se todo mundo for trabalhar de carro, não vamos conseguir melhorar o trânsito. Temos que criar alternativas no transporte público, melhorar a qualidade do transporte, ampliar as ciclovias e estudar como podem ser implantados os corredores urbanos de ônibus. São medidas para melhorar a mobilidade urbana da cidade”.


 


Largura de ruas, denominação do sistema viário, assegurar acesso aos centros de emprego, comércio e serviços, além de equipamentos urbanos de saúde, educação e lazer, são itens também previstos no PDDUS.


 


Além do Plano Diretor, o Executivo Municipal, conforme informa Emmanuel Nascimento, está enviando para a CMA o Plano de Mobilidade Urbana. “Esse é um projeto muito interessante. A mobilidade urbana não é um problema só de Aracaju, mas que afeta todo o país e cabe a nós estudar meios para minimizá-lo, ver onde existem exemplos que estão dando certo e ver qual a melhor forma de gerenciar o problema aqui na nossa cidade”.


 


Fotos: César de Oliveira / Alberto Dutra