Para nutricionistas, médicos endocrinologistas e nutrólogos, os brasileiros consomem adoçante em excesso, mas desconhecem o que estes produtos podem causar. “Somos os que mais consomem adoçantes no mundo, mas não sabemos a quantidade adequada para consumo”, diz a nutricionista Vanderli Marchioli. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em resolução divulgada no dia 18 de março, afirma que a diminuição do limite no uso de dois adoçantes – sacarina e ciclamato de sódio – “é uma opção brasileira para diminuir a quantidade de substâncias artificiais nos alimentos” e que não foram encontradas quantidades excessivas destas substâncias em nenhum produto analisado. Excessos por falta de orientação Médico endocrinologista há 28 anos, César Jacob Filho diz que recomenda no máximo quatro gotas de adoçante por xícara de café, “mas as pessoas colocam quantidades maiores à medida que se acostumam com o sabor”. Para ele, “o consumidor deve ter bom senso na ingestão de doces dietéticos e de refrigerantes”. Antônio Augusto Fonseca Garcia, do Conselho Nacional de Nutricionistas, concorda. “Falta orientação para o consumidor em saber a quantidade adequada para seu tipo físico. Além disso, há mais sensíveis aos efeitos colaterais dessas substâncias do que outras”, diz. Danielle Olha, especialista em nutrição escolar, afirma que “muitas pessoas pensam que, por não engordar, a quantidade de adoçantes é ilimitada. Não é bem assim”. “O fato de não saber a diferença entre light [sem gordura] e diet [sem açúcar] já revela como o brasileiro não sabe o que consome”, diz Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia. Para ele, o alerta feito em relação aos adoçantes, deve servir de exemplo para saber dos riscos de outros alimentos, como os embutidos, por exemplo. O médico, no entanto, acredita que deve-se ter mais cautela em relação ao apontar as possíveis doenças causadas pelas substâncias. “Até agora, só tivemos resultados comprovados em ratos”, disse. Os outros especialistas ouvidos afirmam que já se sabe que a sacarina pode causar problemas no fígado e hiperatividade cerebral. O ciclamato de sódio tem efeito cumulativo e aumenta o risco de hipertensão. Apesar de não haver comprovações conclusivas do risco cancerígeno dessas substâncias, todos afirmam que qualquer conservante, em excesso, faz mal. Fiscalização insuficiente Apesar de confiar no sucesso da resolução da Anvisa, Danielle acredita que a fiscalização sobre as indústrias de refrigerantes e produtos light deve ser maior. “Em várias ocasiões notei que a quantidade de conservantes informada na embalagem não bate com a dose real”, diz a nutricionista. Já em novembro do ano passado, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) verificou que apenas as bebidas já informam em suas embalagens quanto possuem de adoçantes. No entanto, na mesma avaliação, o Idec apontou que, além da sacarina e do ciclamato, o aspartame, o acessulfame de potássio e a sucralose estariam sendo usados em quantidades elevadas, colocando o consumidor sob o risco de ultrapassar a ingestão diária aceitável. Para os especialistas, a resolução traz mais segurança ao consumidor, mas ainda não é o suficiente. “A fiscalização está funcionando bem, mas caberia fazer mais orientações em relação às quantidades que podem ser consumidas”, afirma o nutricionista Antônio Garcia. Para o nutrólogo, Durval Ribas, “é um avanço, mas não é a solução para as doenças que poderiam ser causadas pelos adoçantes”. Resolução de “pouco efeito” A nutricionista Vanderli vai mais além. “A Anvisa tem todo direito de fazer essa resolução, mas é pouco efetivo”. Para ela, precisa-se, antes de qualquer coisa, educar o consumidor. “Nas escolas e na unidades de saúde, faltam profissionais que esclareçam a questão. Vanderli acredita ser injusto jogar a responsabilidade para as indústrias. “Não há espaço para colocar todas as informações necessárias no rótulo. Elas já fazem um papel interessante na educação dos consumidores”, diz. Durval Ribas concorda. “Colocar informações erradas seria dar ‘um tiro no pé’. As empresas querem vender, mas investem em pesquisas para atender melhor os consumidores”, diz. Além da limitação para a sacarina e o ciclamato, a resolução da Anvisa determina a adição da taumatina (natural, 2000 vezes mais doce que a sacarose), do eritritol (natural, 2 vezes mais doce que sacarose) e do neotame (desenvolvido pela Monsanto, é o adoçante mais potente, 8 mil vezes mais doce que a sacarose). A Anvisa declara que este “era um pedido antigo das indústrias. A nova lista tem 16 substâncias e as empresas têm três anos para adequarem seus produtos ao novo regulamento. O que são os edulcorantes? Os edulcorantes são aditivos que dão sabor doce aos alimentos. O ciclamato de sódio é aprovado em diversos países, mas não nos Estados Unidos. Uma das suspeitas é a de que a substância causaria tumores em ratos. Em 1985, novos estudos concluíram que o edulcorante não era cancerígeno, mas os EUA não o liberam, baseados em relatos de alterações de pressão sanguínea. O edulcorante seria responsável também por alterações genéticas e por atrofia testicular. Cinqüenta vezes mais doce que o açúcar, é contra-indicado para hipertensos e portadores de problemas renais. A sacarina tem poder adoçante 700 vezes maior do que o açúcar, e também não é indicada para hipertensos e doentes renais. Também há suspeitas de que provoca câncer, e quase foi proibida para uso nos EUA em 1977. Dose diária recomendada Para saber a dose de edulcorante que uma pessoa com determinado peso pode consumir por dia com segurança, ela deve multiplicar o seu peso pelo valor da ingestão diária aceitável de cada substância adoçante. Por exemplo, a quantidade recomendada do ciclamato é 11 mg por quilo corpóreo. A da sacarina é de 2,5 mg por quilo. Uma pessoa de 70 kg pode tomar duas latas de Coca-Cola Light Lemon por dia. O Idec disponibiliza um programa em que se pode calcular as doses recomendadas de vários produtos que estão no mercado. Veja aqui. Além dos refrigerantes, os edulcorantes são encontrados em adoçantes de mesa, chocolates, barras de cereais, gelatinas, geléias, sucos em pó, entre outros. A Coca-Cola Brasil informa em seu site a quantidade de ciclamato e de sacarina usadas em seus produtos. (por 100 ml) Coca-Cola Light Lemon: ciclamato de sódio (80 mg)/sacarina de sódio (10 mg) Fanta Laranja Light: ciclamato de sódio (64mg )/ sacarina de sódio (8mg); Kuat Zero: ciclamato de sódio (31mg) / aspartame (12mg) / sacarina de sódio (5mg); Sprite Zero: ciclamato de sódio (107mg) / sacarina de sódio (7mg) Nestea Limão Light: ciclamato de sódio (50mg)/sacarina de sódio (6 mg); Nestea Pêssego Light: ciclamato de sódio (50mg)/sacarina de sódio (6 mg); Nestea Mate Light: ciclamato de sódio (56mg)/sacarinade sódio (10mg) Aquarius – água aromatizada sabor laranja: ciclamato de sódio (29 mg)/sacarina de sódio(2 mg); Aquarius – água aromatizada sabor limão: ciclamato de sódio (29 mg)/sacarina de sódio (20 mg); Procurado pela reportagem, o atendimento ao cliente da Pepsi não soube informar a quantidade dessas substâncias em seus produtos. Pesquisa feita por: Wellington Mendes Barbosa (wmendes@superig.com.br)