A população trans e LGBTQIAPN+ do Complexo Penitenciário Dr. Manoel Carvalho Neto (Copemcan), unidade prisional localizada no município de São Cristóvão, recebeu atividades da programação da Semana da Visibilidade Trans. A ação é realizada por meio de parceria entre a Prefeitura de Aracaju, por intermédio da Secretaria Municipal da Assistência Social, em parceria com a Secretaria de Estado da Assistência Social e Cidadania (Seasc) e com o Centro de Referência em Direitos Humanos LGBTI+ da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP).
As pessoas LGBTQIAPN+ que vivem em restrição de liberdade participaram de roda de conversa, na última segunda-feira, 23, além de atividades de pintura colorida da ala voltada para essa população na unidade e fizeram ainda um desfile de moda e apresentação teatral para as equipes dos órgãos. Os figurinos do desfile de moda foram confeccionados pela mulher trans e interna Juliana Lins, 28 anos. Ela elogiou a realização da atividade em alusão ao Dia da Visibilidade Trans [29 de janeiro].
“Fiz quatro figurinos usando o fardamento da unidade como base. Atividades como essa aumentam a autoestima da gente. Eu pretendo fazer moda quando sair daqui, mas tem outras pessoas que pretendem cursar Engenharia, Direito, terminar os estudos. É importante termos uma ala só da gente, pois somos uma população frágil, mais ofendida e agredida. Então, esse espaço nos preserva mais, para que possamos mudar e melhorar para nos reenquadrar na sociedade”, conta a interna.
A paulista Cherry dos Santos, 44 anos, também é uma das mulheres trans acolhidas do Copemcan. “É importante termos esta ala LGBT dentro da cadeia, porque o preconceito ainda existe no século XXI. Temos hoje a bandeira LGBT, que é uma das maiores que tem no mundo. Termos nosso espaço conquistado, onde somos respeitadas enquanto pessoa e que possibilita trazer coisas boas para a gente, como cursos de maquiagem que tivemos no ano passado. Aqui é um lugar onde a pessoa se quiser mudar, muda!”, descreve.
Semana da Visibilidade Trans
A identidade trans deve ser mantida e respeitada dentro de presídios, reforça a coordenadora estadual de Políticas LGBTQIAPN+ da Seasc e mulher trans, Silvânia Sousa “É importante garantir a identidade de gênero das meninas trans que estão em cárcere. Por isso, distribui alguns produtos de beleza, como tinta de cabelo, maquiagem, esmalte. Também pintamos as paredes da ala LGBT, para deixar o ambiente colorido. A nossa função é ainda fazer o acompanhamento, orientar e verificar se há alguma violação, além de garantir direitos juntos à Saúde, como a terapia e distribuição regular de preservativos”.
A ação no Copemcan foi uma das mais importantes da programação da Semana da Visibilidade Trans, de acordo com o pedagogo e assessor técnico de referência LGBTQIAPN+ da Assistência Social de Aracaju, Marcelo Lima. “Essas pessoas estão aqui porque a vida não deu muita oportunidade. Viemos aqui conversar com elas, ouvi-las e promover um momento de inclusão. Considero uma das atividades mais importantes da nossa programação, porque resgata a dignidade e a autoestima delas. Quando eu venho aqui, tenho um sentimento de reencontro, porque conheço algumas delas daqui fora, desde que eram mais novas”, reconhece.
O coordenador do Centro de Referência em Direitos Humanos LGBTI+ da SSP/SE, Helenilton Dantas, reforça a importância do espaço. “É uma população que vive em um ambiente hostil masculino. Em toda a unidade prisional tem que haver esse recorte LGBT. Em Sergipe, temos duas unidades com alas específicas, que é o Copemcan aqui em São Cristóvão e o Presídio Feminino (Prefem) em Nossa Senhora do Socorro. Neste momento, estamos fazendo essa atividade na Semana da Visibilidade Trans para reforçar a importância desse serviço destinado para a população LGBT”, destaca.
A assistente social do Copemcan, Maria Tereza, conta que a unidade tem 42 pessoas autodeclaradas LGBT e que o espaço contém duas alas para essa população. “O critério para ficar nessas alas é se autodeclarar e querer estar neste espaço, pois não é obrigatório. Muitas pessoas querem fazer parte para evitar abusos de outros internos”. Atuando na coordenação municipal LGBT de São Cristóvão, Sandra Sena ressaltou a importância da ala específica. “Nossa preocupação é que essa ala se mantenha, para que possamos trazer mais atenção, atividades e serviços, a exemplo da biblioteca e o forró no período junino, para o qual já estamos buscando vestidos”, completa.
Foto e fonte: Governo de Sergipe
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