Ser professor é acreditar

Nilzardo Carneiro Leão *

Os mais de cinquenta anos de exercício do magistério superior em diversas Faculdades de Direito, iniciando pela Faculdade de Direito da UFPE e presentemente lecionando na Faculdade de Direito de Olinda, da AESO, dá-nos experiência e maturidade para firmar alguns conceitos e posições, coerentes com uma conduta ética que sempre procuramos dar aos nossos alunos e companheiros de ensino.


Não podemos deixar de destacar que, com uma preocupação de trazer para o aluno não apenas uma visão de ensinamentos da disciplina ministrada mas, principalmente, fazê-los despertar para a importância da reflexão e da busca da verdade pelos seu próprio esforço intelectual, alerto-os, sempre, para afastarem-se dos conhecidos “juízo de autoridade”, próprios de um ensino retrógrado, autoritário e inaceitáveis em um Estado de Direito Democrático.


Assim, logo após os primeiros contactos com os sempre novos alunos que chegam em busca de conhecimentos para obtenção do diploma almejado de Bacharel em Direito, daí partindo as novas conquistas permitidas pelo título, fazemos o alerta ou observação: duvidem, duvidem de cada ensinamento ministrado e busquem, com seus estudos e capacidade, o caminho da verdade, que poderá ser, ou não, aquele ministrado pelo professor. Só assim, com seu próprio pensar e meditar, chegarão à vitória final. Essa, a lição de Paulo Freire:


“Se não criamos o novo, o novo se criará sem nós. Ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua produção ou sua construção.”


Estamos a dizer tudo isso porque para o Brasil, para todos nós, para os que meditam e se preocupam com o futuro do país, revela-se ele sombrio, ante o que estamos a tomar conhecimento de fatos ocorridos e que fazem nascer a preocupação com o nosso próprio futuro.


Quando vemos um Poder Legislativo chegar quase ao fundo do poço em relação à conduta ética, um Executivo que busca solapar os padrões mínimos de conduta para manter-se no Poder. Para solução dessas condutas o cidadão ainda tem a arma maior e melhor de uma Democracia: o voto. Mas, quanto ao Judiciário, o STF deixou-nos com o gosto amargo e decepcionante de que o órgão maior da Justiça, longe de conservar o indispensável de uma conduta que elevasse seus Ministros ao crédito maior do cidadão brasileiro, para beneficiar “fichas sujas” que ocupavam altos cargos nos outros Poderes, após condená-los, inocenta-os sem qualquer nova prova, quando deveriam eles estar integrando a denominada “bancada da Papuda”. O apequenar-se na grosseira pantomima que foi a decisão final do “mensalão”.


No entanto, é preciso acreditar, que a força do cidadão, a luta pela restauração da dignidade ética de todos, principalmente dos que integram o Poder, os ensinamentos do professor em sua atividade docente, irá fazer renascer a verdadeira e autêntica Democracia com um futuro de paz, de alegria, de justiça social e de igualdade para todos. Nós, professores, devemos estar engajados nessa campanha de restauração da moralidade pública, porque, para seus alunos


“De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia de nossas palavras. O professor, assim, não morre jamais.” (Rubem Alves)



* É professor e advogado do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP)


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* Publicado no jornal Folha de Pernambuco, em 21 de março de 2014.