A quantidade de açúcar adicionado aos alimentos e bebidas tem que ser especificada e sinalizada aos consumidores através dos rótulos, incluindo uma lupa e um aviso. A regra está em uma resolução baixada em outubro de 2023 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O prazo de adaptação já estava em vigor e venceria em outubro deste ano, mas uma liminar concedida em 15 de fevereiro pela Justiça Federal de São Paulo (JFSP) encurtou esse prazo máximo para 60 dias, obrigando as empresas a se adequarem à regra até abril. O pedido foi do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), alegando que “a coexistência, por mais um ano, de produtos com e sem ‘lupas frontais’ causa confusão no consumidor e lesa o direito à informação sobre a qualidade”
Essa indicação vem sendo recomendada pelos nutricionistas, que alertam para o aumento do consumo de açúcar em produtos industrializados e ultraprocessados como refrigerantes, sucos industrializados, achocolatados, biscoitos recheados, bebidas esportivas, molhos prontos, frutas em conserva, chocolates e bebidas lácteas. Em razão da praticidade, eles vêm sendo mais comercializados e consumidos do que os alimentos in natura. “A mudança da rotulagem foi realizada a fim de auxiliar o consumidor a fazer suas escolhas de forma clara e objetiva quanto ao elevado conteúdo dos nutrientes que interferem em sua saúde”, diz a professora Andreza Araújo, do curso de Nutrição da Universidade Tiradentes (Unit), pontuando que a regra também vale para gorduras saturadas e sódio (sal).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a ingestão diária de aproximadamente 25g de açúcar, o equivalente a seis colheres de chá e a 5% do consumo energético total. Esta quantidade moderada atende à função corporal do açúcar, que é fornecer a maior parte da energia necessária ao funcionamento das células e à manutenção dos diversos órgãos e sistemas do corpo. Ele faz parte do grupo dos carboidratos e sua variação mais conhecida no Brasil, extraída da cana-de-açúcar, é formada pela combinação de frutose e glicose, sendo chamada sacarose. No entanto, a maioria dos alimentos, inclusive os in natura, já contém outros tipos de açúcar. “Eles são encontrados naturalmente em frutas (glicose, frutose), legumes, em alguns grãos, e no leite e seus derivados (lactose – glicose + galactose)”, informa Andreza.
Mas um costume muito presente no cotidiano potencializa o consumo de açúcar, acima da quantia recomendada pela OMS. Uma Pesquisa de Orçamentos e Famílias (POF) feita em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que 85,4% dos brasileiros adicionam açúcar a alimentos e bebidas. E o Ministério da Saúde apurou que a quantidade de consumo médio de açúcar dos brasileiros chega a 80g por dia, bem acima do limite recomendado. Essa adição, segundo a nutricionista, pode estar relacionada ao aumento da palatabilidade, conservação e mudanças na viscosidade e textura, para que cada produto seja melhor aceito pelos consumidores.
Em excesso, faz mal
Os nutricionistas e médicos alertam que o consumo em excesso de açúcar e de outros produtos com açúcar adicionado pode trazer malefícios, como o aumento do risco de sobrepeso e obesidade, cáries dentárias e deficiência de nutrientes. Isso também está associado ao aumento da ocorrência de diabetes, doenças cardiovasculares, doença renal e doença hepática não alcoólica com o acúmulo de gordura no fígado.
“Vale ressaltar, que além do açúcar esses alimentos podem trazer em sua composição outros elementos, igualmente prejudiciais, como: elevado teor de gordura, principalmente a gordura saturada e excesso de sódio (sal)”, aponta Andreza, apontando que a rotulagem dos alimentos também mostra a necessidade de regulamentos e projetos que promovam a mudança do hábito por meio da educação, além de políticas que orientem as indústrias a diminuir a adição desse nutriente nos produtos comercializados.
Para a professora da Unit, é fundamental promover ambientes saudáveis e fortalecer a educação e informação acerca das melhores escolhas. “A mudança comportamental em relação à alimentação, deve ser de forma gradual e contínua associando uma alimentação adequada e saudável à prática de atividades físicas. O Guia Alimentar para a População brasileira orienta para um aumento do consumo de alimentos in natura e diminuição da ingestão dos alimentos minimamente processados e processados. O açúcar de adição deve ser consumido em pequenas quantidades e não deve ser consumido por crianças menores de dois anos de idade”, destaca ela.
Ascom Unit