A pandemia do novo coronavírus (covid-19) no país vem causando impactos em diversos setores, dentre eles no diagnóstico e tratamento de doenças, a exemplo do câncer. O atraso do diagnóstico pode elevar os casos de câncer em mais 25% em 2021, segundo o cirurgião oncológico da Onco Hematos, Roberto Gurgel, que é membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, em entrevista ao Programa Viva Bem, na Fan FM, no domingo (22).
De acordo com o cirurgião, por conta do medo de contaminação, muitas pessoas ainda evitam ir ao médico, o que vem retardando o diagnóstico e tratamento do câncer. “Estamos tendo reflexo agora, com a volta dessa “normalidade’ dentro dos serviços, que é o atraso do diagnóstico e estadiamento. Para você ter uma conduta em oncologia, você precisa saber o quão esse tumor, essa doença, se espalhou ou não pelo corpo da pessoa, isso se chama estadiamento, que requer exames de imagens, exames específicos de laboratórios, e que os pacientes vêm sentindo certa dificuldade de conseguir”, explicou.
Para Dr. Roberto, durante a pandemia, muitos serviços vêm diminuindo suas atividades por conta das restrições sanitárias e os pacientes têm medo de ir fazer os exames. “Além disso, há dificuldade de marcação dos exames de rotina porque houve uma redução significativa da oferta desses exames. Então, se torna mais difícil de fazer o exame de estadiamento, para depois se tomar a conduta sobre o tratamento da doença”, acrescentou.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica lançou um programa nacional e pioneiro, para manter áreas livres de covid-19 para a oncologia. “Vários hospitais aderiram essas práticas para separar as áreas oncológicas da covid-19. Em Milão, na Itália, o centro de oncologia separava os pacientes oncológicos para não atrasar o tratamento, seguindo todos os protocolos de segurança. Eles fizeram uma estrutura onde o paciente já fazia tomografia, exames de imagem, tudo em um local separado e as cirurgias continuaram acontecendo de maneira integral. Esse é um exemplo clássico que pode se fazer tomando certo cuidado e estabelecendo prioridades no atendimento, sem diminuir o atendimento de covid-19 em outras áreas, mas mantendo certos locais longe da covid-19”, disse.
Dr. Roberto destacou que o problema para realizar esse modelo no Brasil não está na operação, ou no início do tratamento, mas na questão do paciente sentir dificuldade para iniciar seu diagnóstico ou investigação de câncer. “Por conta disso, espera-se que em 2021 tenha um aumento de 25% a 35% de casos de câncer, mas isso não significa que seja um aumento, mas sim um atraso dos resultados que deveriam estar nos dados de 2020”, finalizou o cirurgião oncológico, alertando as pessoas que têm suspeita de câncer para buscar agilizar a ida ao médico.
Equipe Âncora/Programa Viva Bem
Foto geral: Tânia Rêgo/ Agência Brasil