Onco Hematos promove live com a paliativista Ana Claudia Arantes

Diante desse momento de pandemia, a clínica Onco Hematos vem promovendo lives em seu Instragram para passar orientações e informações em relação ao Covid-19. Nesta segunda-feira, 11, a oncologista e paliativista da Onco Hematos, Erijan Andrade, recebeu a geriatra e paliativista, Ana Claudia Quintana Arantes, para falar sobre “Como manter a esperança diante do medo de morrer entre o câncer e o coronavírus?”. 

A oncologista iniciou a live comentando sobre as dificuldades da equipe de Cuidados Paliativos para oferecer aos pacientes um melhor cuidado e atenção durante esse momento de isolamento social. “Estávamos acostumados a oferecer de tudo ao paciente, mas nesse momento não podemos ter contato físico com, não podemos cuidar da maneira que gostaríamos. Mas, no meio disso tudo, o que mais temos que ter é a esperança. Por isso que pensamos nesta live, pois os pacientes com câncer além de lidar com a doença ainda têm que se preocupar com a questão do vírus. E hoje o que mais eles querem ouvir é uma voz de conforto, uma forma de atravessar melhor por mais esse desafio”, afirmou.

Sobre o assunto, a paliativista Ana Claudia Arantes enfatizou que o momento que estamos vivendo não há precedente. Por isso, não há certezas. “Não há uma perspectiva, não dá para comparar com outras doenças. O espaço para todos os envolvidos é muito novo. Têm os pacientes que estão em tratamento, os que acabaram de receber diagnóstico, outros que já estavam em cuidados paliativos exclusivos. Tem ainda o contexto da família, que antes amparava e agora teve que se afastar. Então, isso é uma coisa impensável, ninguém poderia imaginar que um dia ia ter que se afastar por amor. E para a gente que é da área que cuida da Saúde, isso também é uma coisa nova. Nunca imaginamos tratar o paciente sem ter contato, ouvir o paciente sem cuidar dele frente a frente”, explicou.

A geriatra e paliativista ressaltou que a sociedade está vivendo na prática o discurso de que não se sabe o dia de amanhã. “Não sabemos se estaremos infectados amanhã, então está todo mundo sentindo como se tivesse feito uma biópsia e esperando o resultado. O que temos que ter é a consciência do que nos trouxe até aqui, tudo o que você viveu até antes da quarentena o preparou para o que está vivendo agora. Minha última atividade social foi em Aracaju, no dia 13 de março, no evento de Cuidados Paliativos e usei muito a minha fala para alertar justamente sobre o vírus, para preparar sobre o que estava por vir”, acrescentou Ana Claudia.

Ana Cláudia também falou sobre a importância, neste momento de pandemia, de promover o autocuidado. “Para conseguir alimentar a esperança a gente tem que cultivar o autocuidado, o amor à própria vida. Mesmo estando num dia triste, ansiosa, preocupada, eu tenho que me comprometer a mudar o meu comportamento naquele dia, pois a esperança não está no que vai acontecer no futuro. A gente não sabe o que vai acontecer na semana que vem, então a esperança é de que a gente possa terminar aquele dia bem. Uma alimentação boa, tomar remédios na hora certa, não gastar o tempo com ‘pré-ocupações’, a forma da gente não se preocupar é se ocupar. Então ocupe o seu tempo com algo que gosta”, destacou.

A geriatra também pontuou que a luta pela vida tem que partir de todos e cada dia que amanhece é um dia para celebrar a vida. “Desde o início da pandemia estou pensando assim, é um dia a menos de sofrimento, um dia a menos de isolamento, de distanciamento e é um dia mais perto do próximo abraço. Então o fato da gente estar vivo, de saber que tem pessoas que se preocupam com a gente, tudo isso é motivo de pensar positivo, pensar que isso tudo vai acabar. Esse não pode ser o momento de sofrimento, é o momento de se ajudar, de se cuidar, de proteger quem você ama”, salientou.

Erijan também descreveu a nova rotina dos pacientes, principalmente os oncológicos. “Mais do que nunca esses pacientes estão se autocuidando, alguns ainda teimam, querem fazer consultas presenciais com os médicos. Para nós, esse momento também é de mudança. Temos que ouvir mais os pacientes, saber deles como estão passando esse momento, seja por vídeo, por uma mensagem”, detalhou.

Para finalizar, Ana Claudia Arantes falou que a morte, nesse momento de pandemia, deve ser vista por outro ângulo. “Morrer agora não é uma boa ideia, mas se acontecer de morrer agora a sua vida é muito mais que a morte na Era do Covid-19. É uma morte afetivamente desamparada, com poucas pessoas no velório, caixão lacrado. Então não é um bom momento para a morte. E para as pessoas que ficam, os familiares, o luto da perda é muito mais sofrido. Mas é preciso compreender que a vida daquela pessoa é mais do que aquele momento triste, dessa morte tão diferente nesse momento de pandemia”, concluiu.

Sobre Ana Cláudia

Ana Claudia Arantes é autora dos livros de grande sucesso: “A morte é um dia que vale a pena viver” e “Histórias lindas de morrer”. É formada pela USP, com residência em geriatria e gerontologia no Hospital das Clínicas da FMUSP, pós-graduada em psicologia – Intervenções em Luto pelo Instituto 4 Estações de Psicologia e especialização em Cuidados Paliativos pelo Instituto Pallium e pela Universidade de Oxford.

Ascom/OncoHematos