Um indivíduo prostrado na cama é o que vem à cabeça de muita gente quando se pensa em alguém enfermo. Mas há exceções a esse clichê. Exceções que, diga-se, estão se tornando a regra em alguns casos. Cada vez mais a ciência encontra provas de que se exercitar durante o período de restabelecimento de uma doença pode acelerar o processo de recuperação do organismo ou, nas situações mais críticas, dar um fôlego extra e mais bem-estar ao doente. A atividade física começa a ser encorajada em pessoas que acabaram de infartar, por exemplo. Há algumas décadas, quem sobrevivia a um ataque do coração era obrigado a ficar em resguardo por longos períodos. No entanto, um recente estudo da Universidade de Alberta, no Canadá, concluiu o seguinte: pacientes estáveis que se exercitaram uma semana após a pane cardíaca se beneficiaram mais do que aqueles que esperaram para iniciar o treinamento. Ainda de acordo com o trabalho, para cada semana parada, é preciso malhar o equivalente a um mês de modo a obter os mesmos efeitos da turma que chacoalhou o corpo todo logo cedo. “Diferentemente do que se imaginava, várias pesquisas mostram que repousar durante esse intervalo deixa o organismo mais fraco, e não mais forte”, conta a SAÚDE o professor Alex Clark, um dos autores da pesquisa canadense. O exercício previne a remodelação do coração, fenômeno em que as células que ficam próximas ao local do infarto se readaptam e o órgão tem o seu formato alterado. Esse redesign pode provocar complicações futuras, como insuficiência cardíaca. Pesquisadores da Universidade de Emory, localizada no estado da Geórgia, nos Estados Unidos, encontraram mais um motivo para fazer algum esporte no pós-infarto: durante o treino, o corpo fabrica óxido nítrico, o encarregado de dilatar os vasos sanguíneos, melhorando a circulação. “Ao aumentar a produção dessa substância, mais sangue passa pelas coronárias”, explica a cardiologista Patrícia Oliveira, do Instituto do Coração de São Paulo. Para uma vítima de um ataque do coração, isso é mais do que uma boa notícia. Afinal, uma maior quantidade de nutrientes e oxigênio chega ao peito, o que contribui para melhorar o quadro geral do infartado. Os exercícios mais recomendados são os aeróbicos, como caminhar, correr ou andar de bicicleta. A grande vantagem é proporcionar o aumento da capacidade cardiorrespiratória. Numa segunda etapa do tratamento, musculação e atividades de flexibilidade também são importantes. Levantar peso amplia a resposta muscular, a força e a potência do indivíduo. Já as atividades que trabalham a elasticidade atuam no equilíbrio, coordenação e desempenho de ações que podem ser consideradas normais e cotidianas, como lavar a louça. “A pessoa que está estável já pode se exercitar e ter os benefícios a curto ou médio prazo”, diz o cardiologista Daniel Kopiler, chefe do Serviço de Reabilitação Cardíaca do Instituto Nacional de Cardiologia. Mas nada de sair correndo sem conversar com seu médico. Ele vai orientar qual é o tipo de prática esportiva mais recomendado para cada caso, como deve ser realizado e sua intensidade. “A prescrição do exercício deve ser individualizada e, nos primeiros dias após o infarto, ser feita com supervisão médica e dentro de um hospital”, adverte Patrícia Oliveira. Lesões articulares? O remédio também é se exercitar “Nesses casos, a atividade física é fundamental no processo de reabilitação”, avalia o ortopedista Roberto Santin, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. O recurso de praxe é a musculação. “Ela age no ganho de força e de resistência e, sobretudo, nas funções afetadas pelas lesões”, diz José Inácio Salles Neto, coordenador do Laboratório de Pesquisa Neuromuscular do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia. Músculos fortes, coração sadio Uma pesquisa da Universidade de São Paulo mostra que a prática de exercícios aeróbicos reduz a atrofia dos músculos esqueléticos, os responsáveis por movimentos voluntários, como apontar para um objeto. Esse definhamento está relacionado a casos de insuficiência cardíaca, quando o coração não consegue bombear o sangue direito. “As atividades aeróbicas aumentam a quantidade de sangue com nutrientes e oxigênio que vai para o músculo esquelético”, explica a pesquisadora. Contra o câncer O exercício também é um grande auxiliar durante e após o tratamento dessa doença. Especialistas do Instituto do Câncer de Duke, nos Estados Unidos, descobriram que pessoas ativas diagnosticadas com tumor cerebral tiveram sua vida prolongada em até 21 meses após a identificação do mal — os sedentários só sobreviveram, em média, por 13 meses. Em entrevista a SAÚDE, Lee Jones, diretor científico do instituto americano, credita os benefícios da malhação ao seu caráter multifatorial. “O exercício tem o potencial de impactar uma gama de sintomas, que vão dos fisiológicos até os psicológicos”, diz Jones. O oncologista José Roberto Rossari, do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, pormenoriza: “A realização da atividade física é capaz de diminuir a fadiga, a ansiedade, a depressão e o estresse, além de melhorar a autoestima, a imagem corporal e a capacidade aeróbica”. Fonte: Saúde Abril