Homens de voz grossa têm mais filhos, indica estudo


Homens de voz grossa têm tendência a ter mais filhos do que os de voz fina, sugere um estudo que acompanhou uma sociedade tribal na Tanzânia, publicado na revista especializada Biology Letters.

A antropóloga Coren Apicella, da Universidade de Harvard, analisou as vozes dos homens da tribo de caçadores Hadza, que puderam ser objeto de estudo porque não têm controle de natalidade e vivem, basicamente, como nossos ancestrais.

Segundo o estudo, compartilhado com David Feinberg, da Universidade McMaster e Frank Marlowe, da Florida State University, os homens de voz mais grossa têm, em média, dois filhos a mais do que os de voz mais fina.

A conclusão confirma a observação de que as mulheres, em geral, preferem os barítonos, explicam os autores do artigo.

“Há várias razões que podem explicar por que a voz grossa e uma reprodução bem sucedida estão relacionados”, diz Apicella.

Vozes mais grossas sugerem níveis mais altos de testosterona – o hormônio masculino – o que poderia levar as mulheres a ver esses homens como melhores caçadores e, conseqüentemente, melhores provedores, disse Apicella à BBC.

“Ou pode ser que os homens de voz mais grossa simplesmente comecem a se reproduzir mais cedo. Nós ainda não sabemos o que está por trás disso”, completou.

Gravação
O grupo de cientistas liderados por Apicella escolheu os Hadza por que “eles abrem uma janela para o nosso passado” e seu comportamento poderia ilustrar facetas chave da evolução.

As mulheres Hadza catam frutas e tubérculos e os homens caçam e coletam mel. Os casamentos não são arranjados, então, os homens e mulheres podem escolher seus parceiros livremente.

Os Hadza são monogâmicos, mas “casos” extra-conjugais são comuns, e a taxa de divórcio é alta.

Para o estudo, os cientistas gravaram as vozes de 49 homens e 52 mulheres entre as idades de 18 e 55 anos.

“O método foi muito simples”, explica Apicella, “fui a nove vilarejos diferentes e gravei as vozes deles, com um microfone, falando Hujambo, que quer dizer olá.”

“Depois analisei as vozes e sua tonalidade, e comparei com a história reprodutiva da pessoa – quantos filhos eles têm e quantos ainda estão vivos.”

Os resultados indicam uma relação entre a tonalidade e a quantidade de filhos dos homens, segundo ela, afirmando que os de voz mais grossa têm mais crianças.

“Nós também concluímos que, para as mulheres, a tonalidade da voz não está ligada à reprodução.”

Olimpíadas Hadza
Por causa das semelhanças entre o estilo de vida Hadza e o de nossos ancestrais, o sucesso reprodutivo da tribo poderia ser um indicador de como os seres humanos evoluíram.

Se as mulheres são mais atraídas por vozes mais grossas, isso poderia levar a uma seleção – em outras palavras, os homens de voz mais grossa se tornariam dominantes depois de algum tempo.

“É possível que o dimorfismo vocal (a diferença de tonalidade entre as vozes masculina e feminina) tenha evoluído durante milhares de anos, parcialmente por causa da seleção de parceiros”, disse a antropóloga. “Talvez, em algum momento, as vozes masculina e feminina fossem mais parecidas do que são hoje.”

O grupo planeja ampliar o estudo e agora analisa dados colhidos entre os Hadza para determinar se a voz grossa dos homens da tribo é um indicador de desempenho geral.

“Eu organizei as Olimpíadas Hadza”, disse ela. “Os homens da tribo participaram de várias atividades, como competições de arco e flecha, corridas, caça, etc.”

“Agora vou analisar esses dados para ver se há relação entre a tonalidade da voz e o sucesso no desempenho geral e no reprodutivo”, conclui.


 


Fonte: BBC Brasil