Desinformação ainda é grande obstáculo à doação de órgãos em Sergipe


Foto: Ascom/SES


A falta de informação continua sendo o maior obstáculo à captação de órgãos e tecidos para transplantes em Sergipe. A avaliação é da médica Rosângela Amaral, coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT), área responsável pela busca ativa de órgãos e tecidos no Hospital de Urgência de Sergipe Governador João Alves Filho (HUSE).


Durante o ano de 2007, a Comissão responsável por encaminhar cerca de 90% de todas as captações de órgãos no Estado realizou 37 delas no HUSE. Deste total, houve uma de pâncreas, uma de fígado (até então inédita em Sergipe), oito de rins e 27 de córneas. Segundo Rosângela Amaral, este número poderia ser ainda maior não fosse a desinformação da população sobre o processo, em especial a morte encefálica.


“Aqui no HUSE nós atendemos a um público formado, na maioria das vezes, por pessoas humildes, procedentes do interior do Estado e com baixos níveis de escolaridade. Isso dificulta o trabalho porque, em muitos casos, grande parte se nega até mesmo a se submeter à entrevista com os profissionais da equipe da CIHDOTT”, explica a médica.


Dificuldades


De acordo com os dados estatísticos da Comissão, em 2007 apenas cerca de 30% de todas as mortes avaliadas foram consideradas viáveis à doação de órgãos e tecidos, o que revela outra dificuldade na busca ativa de prováveis doadores. Além do número reduzido de óbitos por morte encefálica e parada cárdio-respiratória, a captação esbarra em problemas como a recusa da família em doar ou a falta de informação sobre o desejo manifestado pelo falecido.


Questões de ordem cultural também interferem no processo de captação de órgãos e tecidos no HUSE. Segundo relatório anual da CIHDOTT, o desejo de manter íntegro o corpo do falecido aparece como obstáculo à doação em cerca de 30,3% dos casos. Em 26% das situações a família fica indecisa, o que mostra como a carência de informações pode prejudicar uma doação.


Ações educativas


“O problema é que grande número de pessoas desconhece a existência do cadáver com o coração batendo, que é a morte encefálica”, explica Benito Fernandez, coordenador da Central de Transplantes de Sergipe que funciona em anexo ao HUSE. De acordo com ele, apenas os óbitos por morte encefálica permitem a captação de múltiplos órgãos e tecidos.


De acordo com Fernandez, o ano de 2008 será voltado às ações educativas iniciadas em 2007, mas com um diferencial. “Vamos interiorizar mais o processo de educação, reforçando a importância da doação de órgãos e esclarecendo dúvidas quanto ao assunto”, conta.


Córneas


A Central de Transplantes programou para março o início da campanha estadual de doação de órgãos. Este ano, o trabalho estará focado na doação de córneas, maior demanda por transplantes em Sergipe. “Atualmente temos pouco mais de 600 pessoas na fila à espera de um transplante, das quais 352 aguardam por uma córnea”, informa Benito.


Além da grande demanda, a ênfase dada às córneas também é explicada pela facilidade técnica de sua captação. “A captação de córneas é a mais simples porque pode ser feita em até seis horas após o óbito e com o coração parado”, explica Benito Fernandez.