Viva Bem entrevista psicóloga para falar sobre violência contra a mulher

O tema do Viva Bem deste sábado, 26, foi a violência contra a mulher. Estamos nos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher e várias ações no mundo inteiro são desenvolvidas para combate a violência. E para falar sobre o assunto, o Viva Bem entrevistou a psicóloga clínica e jurídica Cláudia Marques, para falar sobre as causas e consequências da violência e sobre a importância de tratar o agressor.

Confira a entrevista:

Canal Viva Bem: Por que a violência não só física como psicológica acontece? E o que leva então à violência, que na maioria dos casos é praticada pelos companheiros das mulheres?

Paula Marques: A população em geral tem a ideia de que quando a gente namora alguém ou tem um compromisso com outra pessoa, essa pessoa se torna parte da gente e, muitas vezes, o companheiro se sente no direito de violentar a mulher por achar que ela não está obedecendo ou seguindo a regra da relação. O mais importante é lembrar que as pessoas não nascem biologicamente violentas, os estudos comprovam que a personalidade é construída, tem uma carga do DNA, mas o principal é a construção dos fatores sociais e culturais influenciam muito. A grande questão é que parte da pessoa o instinto de ser violento, muitos podem se perguntar, por que que meu vizinho é violento e eu não? Nós estamos numa mesma cultura, nos mesmos valores, mas a violência vai se naturalizando dentro do agressor como algo normal, seja ela física, psicológica ou sexual. A violência sexual é ainda muito camuflada, pois a violência sexual não é apenas ser pega a força por outra pessoa, a mulher pode ser violentada sexualmente pelo próprio parceiro e achar que é normal porque ele é o marido. E o que tem que acontecer é a mulher decidir o momento, tem que ser uma relação estabelecida entre os dois. O homem não pode ver a mulher como um objeto de posse e a mulher precisa também mudar um pouco essa relação, perdendo o medo de denunciar.

CVB:Como estão os dados em relação às denúncias contra a violência?

PM: Antigamente o número de mulheres que realizavam denúncias de violência era muito baixo, mas com o aumento do número de delegacias da mulher e com a Lei Maria da Penha as mulheres se sentiram mais seguras para denunciar e se sentir protegida. O que temos notado é que em 2006 tivemos 1.923 denúncias, já em 2013 tivemos 3.065 denúncias e agora em 2016 está em torno de 5 mil. Pensamos que não houve um aumento especificamente da violência, mas que de que antigamente a violência era velada e que hoje, com a construção da sociedade a mulher vem se empoderando mais e querendo denunciar em qualquer caso de agressão. E isso tem todo um movimento engajado para esse grupo, com setores e órgãos públicos da sociedade que protegem a mulher. As faculdades de psicologia e clínicas oferecem atendimento às essas mulheres então é preciso sempre procurar ajuda.

CVB:O agressor também precisa ser cuidado? Apenas a punição não vai resolver?

PM: É muito difícil sempre compreender ou justificar a violência que o agressor cometeu. O que será que o agressor quer dizer com essa violência? Aqui no Nordeste infelizmente tem aquela ideia de que os homens são mais “machos” quando são brutos e violentos com as mulheres, isso não é geral, mas infelizmente reflete os números de casos. Então é preciso entender o motivo para que o agressor cause a violência. Tem um caso que me comove muito quando comecei a atender um senhor com mais de 60 anos que violentava o seu neto. É muito difícil entender o motivo, será se era porque ele ingere bebida alcoólica? Então nós precisamos descobrir o que leva o agressor a gerar a violência e nós também temos que tratar esse temperamento do agressor e evitar que coisas piores venham a acontecer com ele e, principalmente, com a vítima. Então é sempre preciso procurar ajuda. O homem precisa entender que os psicólogos não são apenas para as mulheres, mas também para os homens. Geralmente a violência acontece em ambiente doméstico e então a violência é de todos da família, dos filhos e de todos que convivem com essas pessoas.