Entrevista Dr. Carlos Sampaio Filho Clínica de Assistência Multidisciplinar em Oncologia (AMO) Salvador/BA A mortalidade por câncer de mama no Brasil cresceu 80% nos últimos 20 anos. A informação foi passada pelo oncologista da Clínica AMO, de Salvador, durante evento promovido pela Clínica Onco Hematos, no dia 21 de julho. O especialista falou sobre o “Câncer de Mama HER2 Positivo: do Diagnóstico ao Tratamento Adjuvante”, e apresentou casos clínicos, no Restaurante In Giardino. Ele concedeu a seguinte entrevista sobre este tipo de câncer. O que se pode dizer que existe hoje de avanço no tratamento de câncer de mama? – Acho que um dos principais avanços em relação ao câncer de mama é termos a compreensão que não é uma doença única. Existem vários subtipos de câncer de mama e essa descoberta, digamos assim, trouxe uma possibilidade nova de tratamento, no sentido de que não se trata mais todas as pacientes de uma forma única. Já conseguimos identificar qual é o melhor tratamento para cada subgrupo de pacientes. Como é esse processo de identificar o tipo e o melhor tratamento? – Pacientes que têm um tumor de mama, com por exemplo o receptor de estrógeno positivo, são abordadas de uma forma; as pacientes que têm um câncer de mama que tem expressão para HER2, uma proteína que confere um status maior de agressividade para este tumor, tem outra abordagem que é bastante distinta. Esse conhecimento que há uma distinção entre cânceres de mama, foi um grande avanço, porque nos permitiu dar a cada paciente o melhor tratamento, de uma maneira muito mais individualizada e com isso os resultados melhoraram de maneira significativa. Quantos casos hoje são registrados no Brasil a cada ano? – Em torno de 50 mil novos casos por ano são diagnosticados no Brasil e infelizmente, mais da metade, num estágio relativamente avançado ou avançado, um quadro que precisa mudar no país. E ao contrário do que se tem observado nos países desenvolvidos, a mortalidade por câncer de mama no Brasil não está diminuído, pelo contrário, a mortalidade cresceu cerca de 80% nos últimos 20 anos. E isso decorre da pouca difusão, ou seja, ainda não há um acesso globalizado aos melhores tratamentos em câncer de mama. Isso não se deve também a fato de hoje ter um maior número de notificação de casos, antes ignorados, onde a mulher falecia e não sabia a causa? – Acho que não. Temos ainda um certo grau de subnotificação, mas esses dados são concretos e já sólidos. O que se precisa é fazer com que todos os pequenos avanços científicos de novos métodos de diagnóstico e de novos tratamentos se tornem disponíveis para a população brasileira em geral. Enquanto isso não acontecer, não será sentido reflexo em nível populacional na redução de mortalidade. Há um grupo de risco? – há vários grupos de risco, que podem ser relacionados a uma história familiar de câncer de mama ou câncer de ovário, associadas a pelo menos duas mutações genéticas conhecidas; há outro grupo voltado à história familiar que não tem uma identificação de ordem genética; mas a maior parte dos casos ainda está relacionada ao que a gente chama de câncer de mama usual, que não tem uma causa específica e não representa um grupo de risco específico.