É comum associar a osteoporose à velhice, já que a doença, caracterizada pela perda de massa óssea e deterioração esquelética, é mais comum na faixa etária acima dos 50 anos – uma em cada três mulheres nesse grupo sofre dela; entre os homens, a proporção é de um em cada cinco. Mas isso não quer dizer que pessoas com menos idade estão livres. A enfermidade pode afetar também os mais jovens, e mesmo que não afete, a prevenção deve começar bem mais cedo do que se pensa.
A melhor maneira de evitar futuros problemas é começar a se prevenir ainda na adolescência, quando o esqueleto está se estabelecendo e construindo massa óssea. O equilíbrio desse processo é atingido aos 20 anos. Depois, a estrutura começa a enfraquecer e, a partir dos 40 anos, inicia-se a faixa de risco de osteoporose.
Porém, 70% das brasileiras entre 16 e 44 anos acham que a prevenção deve começar somente na fase adulta, como revelou a pesquisa Firme e Forte Osteoporose, divulgada pela Abrasso (Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo). Por consequência, as precauções com a saúde dos ossos acabam sendo tomadas tardiamente.
Para prevenir a doença, basta consumir alimentos com cálcio e vitamina D. A última auxilia na absorção do primeiro, que atua diretamente no fortalecimento e manutenção dos ossos. Apesar de ser uma recomendação simples, nem sempre ela é seguida corretamente. Cerca de 60% das mulheres acham que tomar apenas um copo de leite por dia é suficiente para se manterem livres da osteoporose. Enganam-se.
Essa quantidade está bem abaixo do valor recomendado pelo OMS (Organização Mundial da Saúde). O ideal é consumir de 800 a 1200 mg de cálcio, o que representa quatro porções de leite (em cada copo de 250 ml há 268 mg do mineral). Apenas 20% das mulheres com 45 anos consomem essa quantidade. Entre aquelas com menos de 45 anos, essa porcentagem não passa de 10%.
Demora no diagnóstico
O problema é que a osteoporose demora para ser notada, já que é uma doença silenciosa, que não causa dor. Segundo Marcelo Pinheiro, diretor da Abrasso, 98% das pessoas esperam sinais de dor para buscar ajuda profissional. Como ela não se manifesta, poucos acabam descobrindo antes que ocorra a primeira fratura. “O problema de não conhecer rapidamente a existência da doença é que o tratamento demora para ser iniciado, o que influencia diretamente nos resultados”.
Durante a pesquisa, 13% das mulheres contaram que sofreram alguma fratura depois dos 40 anos. Dessas, 62% sentiram que a qualidade de vida piorou após o evento. Mesmo após as complicações, apenas 52% delas descobriram que tinham a doença, ao se submeter ao exame de densitometria óssea, a única maneira de detectar com certeza a osteoporose. O restante não chegou a receber o diagnóstico correto.
Segundo dados da IOF (Fundação Internacional de Osteoporose, em tradução livre), 80% dos pacientes fraturados não recebem avaliação e tratamento. Nesses casos, as chances de uma pessoa que já sofreu fratura osteoporótica se machucar novamente são duas vezes maiores.
No Brasil, apenas 39% das mulheres com 45 anos ou mais já passaram por densitometria óssea. Dessas, 37% fizeram o exame somente uma vez, quando na verdade a checagem deveria ser feita anualmente, assim como os exames ginecológicos, principalmente entre mulheres dessa faixa etária. “Apesar de a doença atingir também homens e jovens, a maior incidência é em mulheres com 45 anos ou mais, pois começam a entrar na menopausa, período em que a produção de estrogênio, responsável pelo crescimento de todos os ossos, acaba diminuindo”, diz Pinheiro.
Para o diretor, falta uma campanha de conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce, e também orientação por parte dos médicos. Cerca de 40% das mulheres que passaram por densitometria óssea foram diagnosticadas com a doença, começaram a se tratar e notaram melhora na sua qualidade de vida.
Só quando a doença é identificada surge a preocupação com alguns cuidados. Apesar de uma dieta rica em cálcio e vitamina D auxiliar bastante na prevenção e tratamento, não é suficiente. Segundo o reumatologista Dr. Diogo Domiciano, do Hospital das Clínicas, o tabagismo, o consumo de bebidas alcoólicas e o sedentarismo são fatores de risco e enfraquecem os ossos. Para amenizar os sintomas, eles devem ser evitados. “Só não conseguimos evitar a osteoporose em casos genéticos, quando é irreversível, mas podemos amenizar os sintomas com balanceamento da dieta e adotando hábitos saudáveis”, diz Domiciano.
Cuidados com a suplementação de cálcio
Outra medida que pode ser necessária é adotar suplementação à base de cálcio, mas o tratamento só é indicado para mulheres em que já foi detectado o problema. “A medicação é uma medida para reforçar o tratamento, mesmo com ela os hábitos alimentares e de atividade física devem ser modificados”.
Mas, nem todas as mulheres podem tomar a medicação. Segundo o reumatologista, quem tem aterosclerose (doença crônica que se caracteriza pela formação de tecido fibroso dentro dos vasos sanguíneos, causando obstrução) deve evitar o medicamento, fazer o tratamento somente por meio da alimentação e evitando os fatores de risco. Há pesquisas que indicam que, embora não se conheçam os motivos, o uso do medicamento por pessoas com a doença aumenta o risco de infarto. “Desconfia-se de que os excessos de cálcio acabem contribuindo para obstruir ainda mais os vasos, mas não há nada comprovado”, explica Domiciano.
As pacientes com histórico familiar de pedras nos rins também têm restrições quanto à medicação, pois o uso contínuo de cálcio pode acabar desenvolvendo o problema. O ideal é consumir doses baixas do remédio e completar nas refeições. Os alimentos ricos em cálcio são absorvidos lentamente, por isso não sobrecarregam o corpo com a substância. Já os suplementos fornecem maior quantidade do componente e geram picos no sangue, o que pode acarretar problemas à saúde, como aumentar o risco de infarto.
Alimentos ricos em cálcio
Apesar de não ser o único tratamento, os alimentos são ótimos auxiliares no combate à osteoporose. O leite, riquíssimo em cálcio, é tido como o principal agente do combate aos desgastes ósseos, mas existe uma ressalva. “Não importa qual o tipo de leite, seja de vaca, de cabra, de búfala, desde que a origem seja mamífera. Esses sim são ricos em cálcio, pois contêm porções da substância que estavam no animal. Já os "leites de soja" que não têm reforço de cálcio adicionado industrialmente não conseguem auxiliar na prevenção da doença, pois não contêm a substância”, explica Marcelo Pinheiro.
Fonte: Dr. Drauzio Varella