Com o avanço digital e o impacto da pandemia, os jovens profissionais enfrentam novos desafios emocionais. Como as empresas podem apoiar a saúde mental da geração que redefine o ambiente corporativo?
A Geração Z, formada por pessoas nascidas entre o final dos anos 1990 e início de 2010, está conquistando cada vez mais espaço no mercado de trabalho. Ao contrário das gerações anteriores, como os “baby boomers” (nascidos entre 1946 e 1964) e os “millennials” (nascidos entre 1981 e 1996), essa geração cresceu em um ambiente digital, sempre conectada e em constante mudança. Uma das principais características da Geração Z é sua habilidade em lidar com novas tecnologias, seu forte individualismo e a capacidade de realizar múltiplas tarefas ao mesmo tempo.
Contudo, esses jovens enfrentam desafios emocionais que diferem dos de gerações anteriores, como ansiedade, estresse e depressão, sendo uma das gerações mais suscetíveis no atual cenário corporativo. De acordo com a psicóloga Jamile Teles, professora de Psicologia na Universidade Tiradentes (Unit), esses problemas são consequência não só de um mercado de trabalho extremamente competitivo, mas também dos impactos da pandemia. “Muitos jovens perderam importantes marcos de desenvolvimento durante esse período”, comenta a especialista.
Além disso, a tecnologia, que poderia facilitar a vida, acabou se tornando uma fonte contínua de estresse, especialmente devido à busca por aprovação nas redes sociais e a constante exposição a julgamentos. “Prejuízos emocionais e cognitivos estão ocorrendo num ambiente em que as pessoas são avaliadas por likes, comentários e compartilhamentos. Isso cria uma grande pressão por aceitação social e reconhecimento, o que pode distorcer a autoimagem e levar à ansiedade e depressão. No mercado de trabalho, essa busca por produtividade e reconhecimento também representa um grande desafio para os jovens”, acrescenta Jamile.
Sinais e como reconhecê-los
Os indícios de ansiedade, estresse e depressão na Geração Z podem variar, incluindo:
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Ansiedade: Aceleramento dos batimentos cardíacos, respiração rápida, tremores, dor de estômago, boca seca, sudorese, alterações na pressão arterial e pensamentos repetitivos. “Uma maneira de distinguir a ansiedade normal da patológica é avaliar se a reação é breve, autolimitada e diretamente relacionada ao estímulo do momento”, esclarece.
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Estresse: Alterações no humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, problemas no sono, falta de socialização, pensamentos persistentes sobre um assunto específico, tristeza e insatisfação.
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Depressão: A depressão traz consigo perdas emocionais (como tristeza, choro fácil e falta de esperança), perdas cognitivas (como falhas na atenção e concentração) e também perdas volitivas (como o isolamento social).
O papel das empresas no apoio à Geração Z
Nesse contexto, o papel das empresas é essencial para promover a saúde mental e o bem-estar dos profissionais da Geração Z. “As empresas devem proporcionar não só treinamentos técnicos, mas também capacitações sobre habilidades socioemocionais. Os jovens precisam expandir seu repertório comportamental, e as organizações devem valorizar os colaboradores não apenas pelo desempenho técnico, mas também pelas habilidades interpessoais e capacidade de resolver conflitos”, explica a psicóloga.
Medidas simples, como a criação de espaços descontraídos no ambiente de trabalho, podem contribuir significativamente para a redução do estresse. A flexibilização do trabalho, como o home office, também é uma opção que pode melhorar a qualidade de vida dos funcionários mais jovens. No entanto, Jamile adverte que o trabalho remoto pode ter efeitos ambíguos. “De um lado, oferece flexibilidade e autonomia, mas de outro, pode intensificar a hiperconectividade, agravando o desequilíbrio emocional”, alerta.
É importante que gestores estejam atentos à frequência e intensidade dos sintomas nos colaboradores. “Ao perceber esses sinais, os líderes devem acolher os jovens, validar suas emoções, considerar ajustes no ambiente de trabalho, como flexibilização de horários ou redução de atividades, e, principalmente, incentivar o acompanhamento psicológico”, sugere Jamile.
Estratégias de autocuidado
Para a Geração Z, a psicoterapia surge como uma ferramenta indispensável no enfrentamento dos desafios emocionais no ambiente corporativo. “A terapia permite ao indivíduo identificar as causas de seu sofrimento emocional e reconhecer os fatores que desencadeiam suas crises. Além disso, a psicoterapia promove autoconhecimento, fundamental para alcançar equilíbrio emocional e bem-estar”, orienta Jamile.
Ela também recomenda estratégias adicionais de autocuidado, como praticar atividades físicas, meditar e adotar hábitos de sono e alimentação mais saudáveis. “É importante entender a saúde mental de forma abrangente. Não basta apenas fazer terapia; é necessário incorporar práticas saudáveis no dia a dia”, conclui a especialista.
Autora: Laís Marques
Fonte: Asscom Unit