O Brasil terá 625 mil novos casos de câncer a cada ano do triênio 2020-2022. E a obesidade estará entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de 11 dos 19 tipos mais frequentes na população brasileira. Comportamentos não saudáveis como fumar, consumir bebidas alcoólicas, sedentarismo e manter dieta pobre em vegetais também aumentam o risco de 10 tipos da doença. Todas essas informações constam da publicação Estimativa 2020 – Incidência de Câncer no Brasil, lançada hoje pelo INCA, durante cerimônia que marcou os 20 anos do Dia Mundial do Câncer.
Depois do câncer de pele não melanoma (177 mil casos novos), os mais incidentes serão os de mama e de próstata (66 mil cada), cólon e reto (41 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil). Separados por sexo, os tipos mais frequentes nos homens, excluindo-se pele não melanoma, serão próstata (29,2%), cólon e reto (9,1%), pulmão (7,9%), estômago (5,9%) e cavidade oral (5,0%). Nas mulheres, também sem contar o não melanoma, os mais incidentes serão os de mama (29,7%), cólon e reto (9,2%), colo do útero (7,4%), pulmão (5,6%) e tireoide (5,4%).
É a primeira vez que a publicação abrange um período de três anos. Mas ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o aumento do intervalo deve-se à melhoria da qualidade das informações dos registros de câncer, da manutenção das séries históricas e, também, ao fato de a doença, por ser crônica, não apresentar mudanças em seu perfil para pequenos períodos.
Outra novidade, também permitida pela melhora da qualidade das informações foi o cálculo de estimativas para o câncer infantojuvenil seguindo a mesma metodologia empregada para projetar os números da doença nos adultos – que segue o padrão da Agência Internacional para o Controle do Câncer. “Estudos nacionais e internacionais demonstram que o câncer infantil equivale a 3% do total dos casos novos de câncer, descontando-se os de pele não melanoma. Até agora, os números apresentados para essa faixa etária não tinham tanta precisão. Fazíamos a projeção apenas para Brasil e regiões, baseados numa proporção global. Nesta edição, porém, foi possível apresentar a estimativa dos casos novos para crianças e jovens de zero a 19 anos, estado por estado”, esclareceu Marceli Santos, epidemiologista da Divisão de Vigilância e Análise de Situação do INCA, que liderou o trabalho e apresentou a publicação.
Durante a cerimônia, a diretora-geral do INCA, Ana Cristina Pinho, exibiu as novas peças do INCA para a campanha Eu sou e Eu vou, proposta pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), que instituiu o Dia Mundial do Câncer. Participam da campanha, que conta com cartazes e vídeos, a bailarina Ana Botafogo, o dançarino Carlinhos de Jesus e o ator Márcio Kieling. Ao longo do ano outras personalidades se juntarão à campanha.
A diretora-geral também apresentou os principais marcos para o controle do câncer no Brasil nos últimos 20 anos, destacando a importância do Sistema Único de Saúde nessas conquistas: o sucesso do país na redução do tabagismo; o aumento da capacidade para realização de transplantes de medula óssea – o INCA bateu recorde em número de transplantes; a criação do Centro de Diagnóstico do Câncer de Próstata, que já avaliou mais de 3 mil pacientes, e a introdução da cirurgia robótica na rede pública.
Como medida individual para contribuir para o controle do câncer, Ana Cristina recomendou adotar um estilo de vida e hábitos saudáveis, como manter uma alimentação equilibrada, praticar atividade física, não fumar e evitar o consumo de álcool. “Envolvam-se de alguma maneira. Você tem o poder de agir no controle do câncer.”
A chefe de gabinete da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Inez Gadelha, prestigiou o evento e contou em detalhes a história da criação das estimativas de câncer. “Em 1980 eu era professora universitária e apresentava para meus alunos, que viriam a se tornar médicos, os números do câncer de endométrio nos Estados Unidos, uma realidade totalmente diferente da do Brasil. No final dessa década eu entrei no Pro-Onco e começamos a trabalhar para produzir números de casos no Brasil. A primeira edição foram cinco folhas da papel A4 dobradas ao meio e grampeadas”, lembrou. E um dos primeiros usos dessa publicaçao foi estimar a necessidade de hospitais habilitados em oncologia de acordo com o número de casos da doença esperados para cada estado.
A especialista destacou que o câncer é uma doença estreitamente relacionada à condição socioeconômica. “Quanto mais a população se desenvolve, mais cresce expectativa de vida e aumenta o número de casos de câncer ligados ao envelhecimento, à urbanização e à industrialização, como os de mama e próstata. Já nas populações com menor índice de desenvolvimento, os cânceres mais frequentes são os do colo do útero, estômago e fígado”, comparou.
Fonte/Fotos: INCA