A areia da Praia de Atalaia, em Aracaju, está sendo o ponto de partida de uma pesquisa científica que terá parte de seus trabalhos desenvolvidos na França, em um dos principais órgãos de pesquisa agropecuária da Europa. O estudo é para a tese de doutorado da pesquisadora Camilla Andrade Silva Valença, que está sendo realizada no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Industrial (PBI), da Universidade Tiradentes (Unit), e acaba se ser aprovado no edital mais recente do Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE), promovido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes).
A pesquisa busca obter nanopartículas de prata a partir de um extrato contendo produtos do metabolismo do Bacillus, uma espécie de bactéria isolada da areia de praia. De acordo com Camilla, essa ação produz metabólitos com atividades biológicas ideais para diversas aplicações. “A perspectiva é que os conhecimentos adquiridos sobre uma bactéria local sejam aplicáveis no setor da biotecnologia. No meu caso, em específico, na obtenção de nanopartículas de prata que podem ter diversas aplicações no setor industrial”, explica. Entre essas possibilidades, está o desenvolvimento de um produto para tratamentos contra agentes causadores de infecções nas unhas. “Essas nanopartículas estão sendo caracterizadas para serem incorporadas em um esmalte antimicrobiano”, completa.
Com a bolsa da Capes, a aluna de doutorado da Unit vai realizar parte da pesquisa no Institut National de la Recherche Agronomique (Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica), que fica na cidade de Rennes, a 349 quilômetros da capital Paris. Existente desde em 1947, o INRA é um dos principais órgãos de pesquisa, ciência e tecnologia nas áreas de agricultura, alimentação e meio ambiente, destacando-se como um das principais do ramo na União Europeia. Durante seis meses, Camilla fará parte dos trabalhos de pesquisa para a tese na instituição francesa, que é referência em pesquisas com o Bacillus.
“O doutorado-sanduíche sempre foi um sonho desde quando ingressei no mestrado e depois no doutorado. Minha expectativa é de finalizar meus trabalhos conhecendo melhor minha bactéria, assim como fortalecer a parceria com a França, de forma a aprender tudo quanto for possível com eles e de alguma forma contribuir com o que tenho aprendido até então na minha carreira. Além disso, o doutorado sanduíche representa a interação entre as culturas, a qual espero poder levar um pouquinho do Brasil comigo e absorver um pouquinho da França durante minha estadia lá”, diz a doutoranda, sobre a sua expectativa para esta etapa no exterior
A pesquisadora, que é formada em Nutrição e fez o mestrado no próprio PBI/Unit, foi aprovada em duas seleções para o PSDE, sendo uma feita internamente, pelos programas de pós-graduação stricto sensu da Unit, e outra pela Capes, envolvendo todos os programas de doutorado do Brasil. Ela acredita que o fator determinante para a sua aprovação no doutorado-sanduíche foi a junção do currículo com a inovação do projeto a ser desenvolvido no exterior. “Ele será no sequenciamento e anotação do genoma inteiro da bactéria, assim como o mapeamento de genes que estejam relacionados com a produção de metabólitos bacterianos e consequentemente com a atividade antimicrobiana que o meu extrato está apresentando. Essa análise in silico é o que há de mais novo e de menor custo na área de microbiologia pois permite conhecer melhor o microrganismo analisado e assim permite facilitar sua otimização de processos relacionados”, afirma.
A tese de Camilla, com o título “Biossíntese de nanopartículas de prata a partir de extratos de Bacillus sp. com potencial antimicrobiano”, é orientada pelas professoras-doutoras Patrícia Severino, do PBI/Unit; e Sona Arun Jain, que passou pelo PBI e hoje leciona no Departamento de Morfologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). O embarque para a França está previsto para junho deste ano e a volta ao Brasil será em dezembro. Já a defesa da tese na Unit deve ocorrer em agosto de 2025.
Fonte: Ascom Unit
Fotos: Unit