Num contexto marcado pela agitação cotidiana, a alimentação das crianças muitas vezes é negligenciada, substituindo refeições saudáveis por lanches rápidos e industrializados, colocando em risco a saúde dos pequenos e contribuindo para um problema cada vez mais alarmante: a obesidade infantil. Um estudo conduzido pelo Observatório de Saúde na Infância em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Observa Infância – Fiocruz) revelou um cenário preocupante quanto à obesidade infantil e adolescente no Brasil.
Apesar da tendência de redução observada na última década entre crianças até os 5 anos, o excesso de peso (incluindo casos de sobrepeso e obesidade) afeta uma em cada 10 crianças brasileiras e um em cada três adolescentes (de 10 a 18 anos) em 2022. Entre 2019 e 2021, período que abrange a pandemia de Covid-19, houve um aumento de 6,08% no número de crianças com excesso de peso no país. O crescimento entre os adolescentes foi ainda mais acentuado: 17,2%.
Para o nutricionista clínico e esportivo e professor da Universidade Tiradentes (Unit), Marcus Nascimento, a principal causa desse aumento da obesidade infantil no Brasil está na combinação de alimentação inadequada e sedentarismo. “As crianças estão consumindo cada vez mais alimentos ultraprocessados, ricos em calorias e pobres em nutrientes, enquanto se movimentam menos”, explica o especialista.
Essa dieta carente de nutrientes essenciais para o crescimento saudável das crianças pode acarretar várias consequências negativas, tais como:
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Aumento do risco de doenças crônicas: obesidade, diabetes, hipertensão, problemas cardíacos e até mesmo alguns tipos de câncer podem se manifestar precocemente em crianças com hábitos alimentares inadequados.
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Problemas no desenvolvimento físico e cognitivo: a carência de nutrientes essenciais pode prejudicar o crescimento, a capacidade de aprendizado e a memória das crianças.
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Dificuldades emocionais: a obesidade infantil pode levar à baixa autoestima, depressão e ansiedade, afetando a qualidade de vida das crianças e seu desenvolvimento social.
Fatores socioeconômicos e comportamentais
Além da alimentação e do sedentarismo, Marcus destaca que outros fatores socioeconômicos, culturais e comportamentais também contribuem para a tendência de aumento da obesidade infantil. “O aumento dos preços de certos alimentos naturais e a facilidade de acesso aos ultraprocessados contribuem significativamente. Além disso, com o avanço da tecnologia, muitas crianças passam mais tempo em frente às telas, o que pode levar ao ganho de peso”, enumera o professor.
Combater a obesidade infantil é um desafio complexo que requer uma abordagem multifacetada, envolvendo diversos atores sociais e institucionais. O aumento da obesidade entre crianças e adolescentes não representa apenas uma ameaça à saúde pública, mas também reflete problemas estruturais mais amplos em nossa sociedade. Para enfrentar essa questão de forma eficaz, é crucial que famílias, escolas, governos e a indústria alimentícia atuem em conjunto, adotando medidas tanto preventivas quanto corretivas.
“Em primeiro lugar, a educação das crianças sobre alimentação saudável desempenha um papel fundamental na prevenção da obesidade. Desde os primeiros anos de vida, é essencial que as crianças sejam expostas a hábitos alimentares saudáveis, baseados em uma dieta equilibrada composta principalmente por alimentos naturais, como frutas, legumes, verduras e grãos integrais. Esta educação deve incluir não apenas informações sobre quais alimentos são benéficos para a saúde, mas também sobre os potenciais efeitos negativos dos alimentos processados e industrializados, que muitas vezes são ricos em gorduras saturadas, açúcares e sódio”, ressalta Marcus.
Como reduzir
Além da educação alimentar, a promoção da prática regular de atividade física é essencial para combater a obesidade infantil. “As crianças devem ser incentivadas desde cedo a adotar um estilo de vida ativo, através de brincadeiras ao ar livre, prática de esportes e atividades recreativas. A inserção de programas de educação física nas escolas desempenha um papel crucial nesse sentido, proporcionando oportunidades para que as crianças desenvolvam habilidades motoras, hábitos saudáveis e uma relação positiva com o exercício físico”, orienta.
No âmbito das políticas públicas, é necessário promover medidas que incentivem a alimentação saudável e desestimulem o consumo de alimentos não saudáveis entre crianças e adolescentes. “Restrições à publicidade de alimentos não saudáveis direcionada a esse público, implementação de programas de educação nutricional nas escolas e oferta de opções alimentares saudáveis em cantinas escolares são algumas das estratégias que podem ser adotadas. Essas medidas não apenas fornecem orientação e apoio para as famílias, mas também criam um ambiente propício para escolhas alimentares saudáveis”, recomenda Marcus.
É imprescindível que a indústria alimentícia assuma uma postura mais responsável em relação à produção e comercialização de alimentos, reduzindo o teor de ingredientes prejudiciais à saúde e investindo em campanhas de conscientização sobre alimentação saudável. “A reformulação de produtos para torná-los mais nutritivos e a adoção de práticas transparentes de rotulagem nutricional são passos essenciais nesse sentido. Além disso, a indústria também pode desempenhar um papel ativo na promoção de hábitos alimentares saudáveis por meio de parcerias com organizações governamentais e não governamentais, visando a disseminação de informações e a educação da população”, conclui.
Por: Laís Marques
Ascom Unit